Panorama do ensino de Agronomia em palestra em Ijuí
Eng. Agr. Dra. Gisele Herbst Vazquez, palestrante do evento. Créditos: Arquivo CREA-RS
Apaixonada pela profissão, a Eng. Agr. Dra. Gisele Herbst Vazquez, que faz parte da Comissão Temática do Congresso Técnico e Científico da Engenharia e da Agronomia 2018 (Contecc) e é ex-coordenadora-adjunta da Câmara de Agronomia do CREA-SP, apresentou um amplo panorama da situação atual do Ensino Superior no Brasil, mas lamentou o fato de a sociedade não reconhecer o trabalho da primeira profissão regulamentada, a Agronomia. “Até mesmo entre os alunos”, aponta. Mas, de acordo com ela, ao longo dos anos, houve um aumento expressivo na oferta de vagas e de cursos do Grupo Agronomia no Brasil.
Começou a sua apresentação com um estudo de pesquisadores da USP sobre a importância e os efeitos dos investimentos em capital humano na agropecuária do Estado de São Paulo, onde mostrou que “cada R$ 1,00 aplicado em Educação Superior temos o retorno de R$ 30,00; em investimentos da Fapesp (Bolsas, Projetos e Infraestrutura) de R$ 27,00; em Instituições de Pesquisa de R$ 20,00 e em Extensão Rural de R$ 11,00 para a economia paulista, por meio de um crescimento da produtividade, esclareceu.
Apresentou ainda dados que apontam o aumento no número de alunos nas Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil. Em 2014, havia 6,498 milhões matriculados, sendo 4,676 milhões nas IES privadas e 1,822 milhão nas IES públicas. Em 2015, a pesquisa aponta 8,03 milhões de alunos matriculados, sendo: 6,08 milhões nas IES privadas e 1,95 milhão nas IES públicas.
Também em 2015, dos 33.501 cursos de graduação, os de Engenharia ficaram em terceiro lugar, depois de Ciências Sociais, Negócios, Direito, em primeiro, e Educação em segundo, sendo 959 os cursos de Agricultura e Veterinária.
Referente ao número de vagas em cursos de graduação por modalidade de ensino, a pesquisa do INEP apresentada pela Eng. Agr. Gisele mostrou que do total de 8.531.655 vagas existentes no País em 2015, 7.767.039 eram em IES privadas e 764.616 em IES públicas. Ainda em relação ao total de vagas, 5.749.175 eram em cursos presenciais, sendo 5.035.483 oferecidos pelas instituições privadas; enquanto as públicas destinavam 713.692. As vagas em Ensino a Distância não são muito diferentes: das 2.782.480 vagas oferecidas, 2.731.556 eram disponibilizadas pela instituição privada e 50.924, pelas IES públicas.
A professora Gisele defende que o Sistema Confea/Crea participe mais das discussões sobre os Ensino a Distância. “Já é uma realidade. O Ensino a Distância já representa 26% da educação superior do país. E vai crescer mais. Estudo realizado pela Sagah, empresa desenvolvedora de conteúdo e tecnologia EaD, prevê que, em 2023, o Ensino a Distância corresponderá a 51% do mercado. No EAD hoje predomina a licenciatura”, apontou.
Para ela, no entanto, os alunos brasileiros da modalidade Agronomia não estão preparados para o Ensino a Distância. “O grande problema é a falta de base do aluno ingressante, que já vem com formação deficiente do Ensino Médio. Precisamos também discutir a qualificação destes cursos em EAD, tanto no nível de qualificação dos docentes, quanto das disciplinas que poderão ou não serem ministradas a distância. O desafio é como utilizar a tecnologia para contribuir com o ensino e formação de um profissional que tenha capacitação técnica para um mercado cada vez mais exigente”, avaliou.
Lamentou ainda o fato de o Brasil estar entre os países com menor porcentual de graduados nas áreas de STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, na sigla em inglês), segundo o relatório da OCDE, publicado no dia 11 de setembro deste ano.
Segundo dados atualizados do Ministério da Educação (MEC), obtidos junto ao Sistema e-MEC (2018), apontam que as IES oferecem 366 cursos de Agronomia e 95 cursos de Engenharia Agronômica, em um total de 461: sendo presencial, 438; a distância, 23, estando 14 como solicitações provisórias.
Discorreu ainda sobre as provas do Enade e a pontuação dos cursos de Agronomia, informando que os diversos cursos da Região Sul receberam nota 5.
Depois de falar sobre as atribuições dos profissionais da Agronomia e da importância do Sistema Confea/Crea neste processo, a Eng. Gisele apresentou um Manifesto em Defesa da Qualidade da Formação Profissional na Modalidade Agronomia com 10 sugestões para ser enviado ao Confea e posteriormente ao MEC, como uma que solicita que o Sistema Confea/Crea possa oferecer subsídios à decisão do Ministério da Educação quanto à avaliação de seus cursos em caráter decisivo e não opinativo, como prevê o artigo 29 do Decreto 8.754, de 10 de maio de 2016.
A ideia é que os coordenadores analisem o documento e a possibilidade de novas propostas para posterior encaminhamento.
Finalizou, dizendo que não existem receitas. "Cada escola, no processo democrático de escolha dos objetivos, valores e perfis de formação, terá de gerar sua própria estrutura curricular. Mesmo porque não adianta montar belas planilhas e listas de competências e objetivos se o conjunto de professores não estiver comprometido com as mudanças desejadas e disposto a enfrentar o trabalho decorrente."
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