O equipamento mede a distância, a temperatura corporal de pessoas diante do deficiente e avisa quando alguém próximo está sem máscara. Créditos: Arquivo Divulgação

terça, 13 de abril de 2021

Usar máscaras e não ficar em locais onde há pessoas sem e manter o distanciamento mínimo de 2 metros de outras pessoas já se tornaram hábitos em nosso cotidiano no meio da pandemia de Covid-19. Mas você já parou para pensar em como as pessoas cegas fazem para identificar se estão longe o suficiente dos outros e em locais seguros?

O Eng. Sandro Mesquita não só pensou, como foi além. O mestrando em Engenharia de Software Sandro Mesquita, especialista em robótica e automação, seu ex-aluno de robótica que hoje cursa Ciência da Computação do Instituto Federal de Educação, Tiago Diógenes de Araújo, e seu orientador, o Eng. Victor Hazin da Rocha, criaram óculos para auxiliar as pessoas cegas a não ficarem tão expostas aos riscos durante a pandemia de Covid-19.  O equipamento desenvolvido por ele mede a distância, a temperatura corporal de pessoas diante do deficiente e avisa quando alguém próximo está sem máscara.

O CREA-RS Entrevista conversou com Sandro Mesquita para saber mais sobre o projeto que faz parte de sua pesquisa de mestrado no Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), instituição de pesquisa sem fins lucrativos do Porto Digital.

 

CREA-RS - Como surgiu a ideia de criar óculos anti-COVID para pessoas cegas?
Engenheiro de Software Sandro Mesquita – A gente já desenvolvia, há dois anos, um projeto de óculos com reconhecimento facial, de objetos e iniciando o recurso de geolocalização. Nós participamos da Feira Brasileira de Ciência e Engenharia (Febrace), em São Paulo, na Unicamp, e esse projeto já foi aprovado também em outros lugares. Ele foi apresentado na Itália, em Roma, em uma feira chamada Maker Faire, uma feira internacional e passamos para uma feira em Hannover, na Alemanha, de forma virtual devido à pandemia.
O projeto era a minha defesa do mestrado, óculos que reconhecem faces e objetos, e caso o objeto esteja representando um perigo. Por exemplo, ele reconhece uma faca e se a faca está com a ponta pra cima. Também desenvolvemos os óculos para o trânsito, de reconhecer faixa de pedestre, semáforo vermelho ou verde, se vem carro ou não, onde estão os objetos na rua. Esta era a minha dissertação de mestrado.
Quando a gente estava trabalhando com isso, porém, já tinha começado a pandemia e as orientações de distanciamento social. Isso era por volta de agosto, setembro de 2020. Além disso, falou-se que a prevenção era usar a máscara e que, se as outras pessoas estivessem sem máscara, era melhor sair do ambiente. Deveríamos também observar se estamos a um metro e meio de distância das pessoas, em caso de comércio, usar o termômetro corporal para verificar a temperatura das pessoas.
Com isso, eu percebi a necessidade que o deficiente visual teria: como fazer tudo isso? Então surgiu a ideia de pegar o outro projeto, tirar o que interessava dele e migrar para o novo, focada nesse público de deficientes visuais na prevenção do Covid-19, pois a recomendação para esse grupo era, simplesmente, de ficar em casa. Mas eu pensei que poderia contribuir possibilitando a identificação dos locais seguros, se as pessoas estavam seguindo os protocolos, se estavam devidamente afastadas e apresentavam sintomas, como a febre. 

CREA-RS - Como funciona os óculos, as pessoas já estão usando?
Engenheiro de Software Sandro Mesquita – As pessoas ainda não estão usando, pois estamos aguardando investimento para produção. Porém, foi testado por um deficiente visual e algumas pessoas com vendas. Ele funciona assim:
Nos óculos (naquela case azul), tem esses três componentes tracejados em azul, um sensor de temperatura corpórea, uma câmera e um sensor de distância por infravermelho. Tudo é enviado para essa placa verde, onde tem um sistema com Inteligência Artificial (IA) que processa tudo e envia para um fone de ouvido via bluetooth um áudio falando se a pessoa está sem máscara, com febre ou muito perto (menos de 1,5 metro).

CREA-RS - Essa tecnologia é inédita?
Engenheiro de Software Sandro Mesquita – Sim, não existe igual.

CREA-RS - Qual é a possibilidade dos óculos serem usados em grande escala?
Engenheiro de Software Sandro Mesquita – O projeto tem cunho social, logo não tenho interesse em usar para comércio. Isso torna difícil um investimento, que teria que partir de uma ONG, fundação ou governo para ser produzido sem fins de lucro ou lucro mínimo.

Caso você se interesse pelo projeto, o Eng. Sandro Mesquita está disponível em @profsandromesquisa no Instagram.