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Pesquisador Philip Yang aponta parâmetros para o desenvolvimento nacional


Philip Yang: parâmetros para os investimentos chineses, em consonância com as necessidades reais do país. Créditos: Santo Rei e Impacto/Confea

Após as primeiras das 300 horas da programação, a primeira das 200 palestras que irão fazer parte da octogésima edição da Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia trouxe ao palco do auditório Moqueca Capixaba o diplomata de ascendência chinesa Philip Yang. O tema “O lugar do Brasil no mundo: a demanda de infraestuturação do país ante o deslocamento do  poder para a Ásia”  atraiu a atenção do público, no fechamento do primeiro dia do evento que ocorre até a próxima quarta-feira (9), no Pavilhão de Carapina, em Vitória (ES).

Mestre em Administração Pública pela Harvard Kennedy Scholl, o criador do Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole – URBEM saudou o fato de haver desejado ser engenheiro e a qualidade da programação do evento.  Ao início da sua apresentação, ele considerou que o URBEM parte do pressuposto de que os projetos urbanos e de infraestrutura “são bons na medida em que eles são  fundamentados no equilíbrio entre forças de governo, forças de mercado e forças da sociedade civil”. 

 As escolhas  dos modelos de desenvolvimento do Brasil, em torno de projetos chamados por ele como “de construção ou consolidação nacional”, devem ser feitas com base nos problemas reais que a gente enfrenta enquanto sociedade, considerou. “Tomo como pressuposto que o Brasil como nação é uma obra inacabada. A gente tem que usar a infraestrutura como ferramenta para a conclusão dessa obra. A sua inconclusão apresenta riscos ao Estado, à soberania, à democracia e ao desenvolvimento econômico e social”, afirmou ao final da sua apresentação, em que valorizou “parâmetros de escolha de desenvolvimento para o país”.


Em seguida, ele apresentou projetos de construção nacional, como Itaipu. “Um símbolo de engenharia e de construção soberana, bilateral”. O PIX, o Sistema Interligado Nacional (SIN), o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Programa Minha Casa, Minha Vida foram outros projetos desse nível apontados pelo estudioso. “Já o SIVAM, concebido nos anos 1990, como uma infraestrutura integrada de vigilância da Amazônia Legal, na ordem de 1.4 bilhão de dólares, com grande financiamento internacional, foi envolvido em um escândalo. O resultado disso foi uma implementação incompleta. E não tem nada mais urgente do que a retomada do controle soberano da Amazônia”, lamentou Yang.

Enviado especial da COP 30 para assuntos urbanos, ele apontou que “não existe política global climática sem envolvimento das autoridades e das sociedades locais”. Assim, a política urbana também passa por esse equilíbrio. “O pressuposto de pegar o lugar do Brasil no mundo depende de bons projetos de infraestrutura, como apontou o presidente Vinicius. E todo projeto de infraestrutura depende de interações, de políticas industriais e de uma política externa, em muitos casos”.

Philip Yang afirmou que as demandas do Brasil são caracterizadas pelos projetos autofinanciáveis, capazes de remunerar integralmente o capital investido, como as concessões de rodovias, aeroportos e as linhas de transmissão de energia; e também por projetos com retornos mistos, que combinam as receitas de tarifas, receitas acessórias e, eventualmente, as contrapartidas oferecidas sob a forma de subsídios governamentais. “Os projetos que apresentam retorno estratégico de longo prazo, são os projetos de consolidação nacional, e que não são realizados no Brasil, praticamente. Precisamos deles para encontrar um desenvolvimento rigoroso e mais sustentável”.

 

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Trajetória no universo das relações internacionais levou o pesquisador a ser adido durante a COP-30



Referência internacional em Planejamento Urbano, Relações Internacionais e Infraestrutura, Yang  considerou que não existe hoje projeto de infraestrutura que não se torne obsoleto “se ele não tiver Inteligência Artificial embarcada desde a sua concepção”.  Considerando que os maiores polos de desenvolvimento da área estão nos Estados Unidos e na China, ele afirmou que o Brasil “é um grande difusor, mas não gerador primário dessas novas ferramentas de tecnologias e de IA, o que pode ser decisivo para o futuro do país”. 

Parâmetros de escolha
Ao afirmar que a capacidade industrial chinesa em relação à Europa e aos Estados Unidos mostra uma “ascensão vertiginosa”, inclusive em relação ao consumo, Yang considerou que isso está relacionado ao ingresso da China na Organização Mundial do Comércio, o deslocamento das cadeias produtivas do país asiático e ainda a desindustrialização norte-americana. “A China se tornou a maior potência industrial em meados dos anos 2000 e desde então essa diferença se ampliou em escala física, sofisticação e agregação de valor industrial”. 

O volume de investimentos  dos Estados Unidos e da China no Brasil também foi abordado pelo pesquisador. “A presença americana é muito superior à da China”, disse. “Mas nos últimos 10 anos o aumento real de investimento chinês atingiu uma taxa de 324%, enquanto a curva de crescimento americana é basicamente estável”. 

A natureza do investimento americano é basicamente orientada ao mercado interno brasileiro, em varejo, serviços, telecomunicações e agronegócio industrial. “O investimento chinês é em infraestrutura física e energética, petróleo e mineração. Nitidamente, a China investe muito mais em infraestrutura do que os Estados Unidos”, disse, destacando também os investimentos em economia verde feitos pelo gigante asiático. “O compromisso chinês com a transição energética é muito mais forte”.

Outra referência (ou parâmetro de escolha) apresentada por Philip Yang se refere à prioridade do que os dois países vêm adotando em relação ao desenvolvimento da inteligência artificial. “Os Estados Unidos têm dado máxima prioridade ao desenvolvimento da Inteligência Artificial Geral (AGI). Ela presume que seja a capacidade de superar a inteligência da humanidade. A China tem uma perspectiva diferente. Ela está razoavelmente satisfeita com o nível de desenvolvimento que a IA atingiu agora e está se voltando para um uso mais universal, cotidiano, em bens de consumo e em projetos de infraestrutura”.

Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea

Fotos: Santo Rei e Impacto/Confea

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