

Créditos: Arquivo CREA-RS
O painel “Mulheres na Engenharia 5.0”, moderado pela presidente do Crea-RS, Nanci Walter, no auditório Mestre Álvaro, durante a 80ª Soea, reuniu reflexões sobre o papel das mulheres na transformação tecnológica e social com as palestrantes Débora Garofalo e a vice-prefeita de Vitória, Cris Samorini.
Além de destacar a alegria em conduzir o debate, Nanci aproveitou para elogiar aspectos da capital capixaba, como a segurança e a limpeza da cidade, sendo um reflexo, segundo ela, da boa gestão e da valorização da inovação, fazendo referência à presença da vice-prefeita.
Em sua palestra “Educação 5.0 – Habilidades Humanas para a Era Digital, a consultora de Educação e de Políticas Públicas Débora Garofalo iniciou instigando o público com uma pergunta: “Como podemos formar cidadãos capazes de usar a tecnologia para transformar o mundo de forma humana e sustentável?”
Débora explicou que a Educação 5.0 é mais do que o uso de ferramentas digitais – trata-se de unir humanidade, inovação e propósito. Inspirado no conceito criado no Japão, em 2016, o modelo busca aplicar a tecnologia para promover o bem-estar humano.
“Enquanto a Educação 4.0 preparava para o mercado digital, a 5.0 busca humanizar o digital”, afirmou.
A especialista ressaltou que a nova educação deve desenvolver competências como colaboração, empatia, criatividade, pensamento crítico e resolução de problemas, essenciais para o futuro do trabalho.
Desafios e desigualdades ainda persistem
Apesar do avanço da tecnologia nas escolas, Débora lembrou que o Brasil ainda enfrenta grandes desafios estruturais. O país soma 5,3 milhões de pessoas analfabetas com mais de 15 anos e 4 milhões de crianças e adolescentes com privação educacional. “A pandemia acelerou a digitalização, mas também escancarou desigualdades. A tecnologia só tem sentido se for traduzida em equidade e transformação social”, destacou.
Destacou ainda a baixa representatividade feminina em áreas tecnológicas. Embora 80% da força docente seja composta por mulheres, elas ainda são minoria em cargos de liderança e nas áreas de inovação.
Atualmente, 27% das matrículas em cursos de engenharia são de mulheres – percentual que há algumas décadas não passava de 4%. Na área de produção e construção, o número chega a 34%, mas cai para 17,4% em computação e TIC. Apenas 19% das profissionais registradas ocupam cargos de liderança.
Robótica com sucata: tecnologia feita à mão e com propósito
Débora compartilhou ainda a experiência transformadora do projeto “Robótica com Sucata”, desenvolvido em uma escola pública de uma favela de São Paulo. A iniciativa usa materiais recicláveis para ensinar tecnologia de forma criativa e acessível.
“Nosso maior desafio foi mostrar que tecnologia é muito mais do que acessar redes sociais. É sobre resolver problemas reais. Além disso, conseguimos provar para as crianças que a tecnologia é de todos”, contou.
O projeto envolveu mais de mil alunos, alcançando resultados expressivos: redução de 93% da evasão escolar, queda de 95% do trabalho infantil e retirada de uma tonelada de lixo das ruas da capital paulista.
“Um dos cases de sucesso deste projeto e que me emociona até hoje é o de um estudante que, sem saber ler no oitavo ano, hoje cursa Física na USP. Não é a tecnologia que vai mudar o mundo, mas as pessoas que souberem usá-la com propósito”, reforçou Débora.
A palestrante concluiu defendendo que a educação deve unir tecnologia e humanidade. “A inovação começa no chão das escolas. E o simples sempre funciona”, afirmou.
Protagonismo feminino na engenharia
Na sequência deste painel, a vice-prefeita e secretária de Desenvolvimento da Prefeitura de Vitória, Cris Samorini, respondeu a algumas questões feitas pela moderadora sobre Educação para Transformação e o papel da Engenharia 5.0 na construção de cidades inteligentes.
Logo na primeira pergunta, sobre o papel da educação e das competências humanas no novo cenário tecnológico, Cris destacou que Vitória fez uma escolha estratégica ao transformar seis escolas em tempo integral, iniciativa que tornou a capital capixaba referência nacional e a levou ao título de cidade mais inteligente do país.
“É preciso criar habilidades internas. Vitória foi a primeira cidade a ter uma escola referência do Sesi, com tecnologia STEM. Ainda temos um grande desafio em matemática, mas estamos avançando. De qualquer forma, alguns indicadores nacionais são preocupantes. Enquanto formamos 4% menos engenheiros que o Japão, já formamos 10% de técnicos, o que é um potencializador”, afirmou.
Ao responder sobre como consolidar a Engenharia 5.0 como motor do desenvolvimento sustentável das cidades e do país, Cris ressaltou que o investimento em robótica e em metodologias inovadoras tem sido essencial para preparar os alunos para o futuro.
“Não adianta apenas investir em software. É preciso investir na qualidade de vida das pessoas. Quando criamos condições para que as famílias possam deixar seus filhos em escolas de qualidade, estamos formando uma base sólida para a criatividade e o desenvolvimento humano”, pontuou.
Ela lembrou que Vitória tem se destacado nacionalmente em inovação educacional, com jovens premiados e projetos reconhecidos em todo o país.
Na terceira questão, sobre a conexão entre engenharia, transformação social e o papel do poder público, Cris enfatizou a importância da assertividade na gestão pública e dos investimentos estruturantes na cidade.
“Estamos investindo mais de R$ 2 bilhões no programa Vitória de Frente para o Mar, que conta com grande participação das engenharias. É um processo de aperfeiçoamento urbano e social”, explicou.
Antes de finalizar o painel, Nanci falou sobre a questão de déficit de engenheiros no país, defendendo que o incentivo aos alunos. “Sempre que faço palestras nas universidades, destaco aos estudantes que diante destes dados eles saem na frente, porque escolher a engenharia é apostar no futuro. Quem escolhe a engenharia hoje faz uma escolha assertiva, pois não terá problemas com empregabilidade”, finalizou.
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