
Em um país onde o etarismo ainda prevalece no mercado de trabalho, o Inova Sênior surge como uma iniciativa inovadora e inclusiva. Desenvolvido por ex-alunos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), o projeto tem como objetivo reconectar engenheiros acima de 60 anos ao mercado, por meio da tecnologia e da inovação. A expectativa é de que profissionais possam ser recolocados imediatamente, enquanto o mesmo resultado levaria cerca de 14 anos para ser alcançado pelas escolas tradicionais.
Esse movimento se torna ainda mais urgente diante de um dado alarmante: uma pesquisa global inédita revelou que 41% dos profissionais brasileiros continuam enfrentando algum tipo de discriminação relacionada à idade no ambiente de trabalho. O índice coloca o Brasil acima da média mundial (36%) e da América Latina (35%), segundo o estudo Talent Trends 2025, realizado pela consultoria Michael Page, especializada em recrutamento executivo.
Em contraste com esse cenário, o diretor da PoliAlumni (plataforma de ex-alunos da Escola Politécnica), Duperron Ribeiro, explica que a ideia nasceu para aproveitar o “bônus de experiência” da população brasileira, que envelhece de forma acelerada. Segundo dados do IBGE, pessoas com mais de 60 anos já representam 15,8% da população nacional.“Nunca tivemos tantas pessoas com experiência, saúde e disposição para continuar contribuindo. O Inova Sênior veio para aproveitar essa energia toda. Combatemos, de um lado, o desperdício de conhecimento e, de outro, o isolamento das pessoas, que gera uma série de problemas psicológicos”, afirma.
Déficit de engenheiros
O presidente do Confea, eng. telecom. Vinicius Marchese, tem alertado sobre a evasão na engenharia, que é a maior entre todos os cursos de graduação. Segundo dados apresentados por ele no VEJA Fórum Infraestrutura, apenas um terço dos estudantes conclui a faculdade e só 15% seguem na profissão com registro no Confea/Crea. "Profissionais com 60 anos ou mais já representam 17% do nosso Sistema, um contingente valioso de experiência e conhecimento. Precisamos criar oportunidades para que continuem atuando e contribuindo, evitando desperdício de talento e fortalecendo o desenvolvimento tecnológico do país. Além de ser um intercâmbio entre gerações, é uma oportunidade de diminuir déficit significativo de profissionais das áreas tecnológicas e engenharias, que pelas estimativas pode chegar a números alarmantes até 2030”, afirma Marchese.
Na mesma linha de pensamento, Duperron reconhece a escassez de engenheiros no Brasil e a possibilidade de mudar esses números com a atuação dos profissionais seniores. “Vivemos uma fase exponencial da tecnologia. Se não tivermos engenheiros para acompanhar esse processo, o país pode ficar para trás. Esses profissionais não precisam de uma nova formação, mas de atualizações pontuais e conexão com os desafios atuais. A inteligência artificial será usada para promover esse match entre profissionais e demandas de mercado”, explica Duperron.
O Inova Sênior se propõe a criar uma ponte entre engenheiros seniores e empresas, universidades, startups e governo. De um lado, engenheiros com experiência e disposição. Do outro, instituições que enfrentam desafios concretos. A plataforma digital, aliada à inteligência artificial e a eventos presenciais, conectará essas pontas, permitindo acesso a recursos de pesquisa, desenvolvimento e inovação "O objetivo é que se atualizem, encontrem parceiros e, juntos, empreendam novas soluções e empresas de tecnologia”, complementa o diretor.
Sobre o projeto
O projeto conta com, inicialmente, 200 engenheiros da Poli e do ITA. A expectativa é expandir o movimento para toda a engenharia brasileira, ampliando o impacto positivo da iniciativa.
O lançamento do Inova Sênior aconteceu no dia 22 de agosto, na Maturifest, o maior evento da América Latina sobre trabalho, empreendedorismo e longevidade 50+. https://www.maturifest.com/
Fernanda Pimentel / Equipe de Comunicação do Confea com informações do Jornal da USP