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Renascimento: engenheiro que sobreviveu a queda de avião compartilha experiência


Ricardo Trajano compartilha sua história. Créditos: Sto Rei e Impacto/Confea

Ricardo Trajano tinha 21 anos, estudava engenharia na Universidade de Petrópolis e, baixista, sonhava conhecer a terra do rock’n roll: Londres. “Era minha primeira viagem para o exterior, era a década de 1970, quando era um evento viajar, os caras iam de terno e gravata, era muito caro”. Ricardo economizou seu “rico dinheirinho”, como disse, entrou na agência Varig de Copacabana e comprou seu sonho. Partiria do Galeão às 23h, em um Boeing 707. Chegou às 17h para ser o primeiro a escolher o lugar. Pegou a traseira do avião, pois diziam ser o lugar mais seguro.

À bordo, sem conseguir conter a empolgação, perambulava e fazia amizades, foi visitar duas vezes a cabine. Quando se aproximavam de Paris, onde fariam escala, Ricardo percebeu uma fumaça ali atrás, tirou o cinto e foi lá para a frente da aeronave, onde tomou uma bronca do comissário: “você quer visitar de novo a cabine? Volte para o seu lugar!”. “Decidi que não voltaria e me lembrei de Dalai Lama: ‘aprenda as regras, e quebre algumas’”. Mas aí já estava tudo escuro e comecei a me despedir da vida. Me veio o filme todo com minha família. Senti alguém me segurando e pensei: ‘pronto, é a morte’”.

Trajano impactou milhares de pessoas durante a 80ªSoea

Daí para frente, o avião foi perdendo altura e se inclinando. Ricardo caiu de bruços no chão e o comissário conseguiu fazer um pouso de emergência numa plantação de cebolas, mas colidiu com diversas árvores e o fogo carbonizou 123 pessoas. 12 sobreviveram, desses apenas um não era da tripulação: Ricardo. “Antes de eu apagar, era um barulho infernal”. O público se levantou das cadeiras para aplaudir Trajano, que compartilhou sua experiência e o que aprendeu a partir dessa reconstrução de vida nesta manhã (7/10) durante a programação da 80ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia - Soea.

Inicialmente, Trajano ficou 30 horas em coma. Seu corpo foi reconhecido como sendo de um comissário que havia falecido, e o hospital informou sua família sobre sua morte. Seu pai encomendou seu sepultamento, a Universidade fez comunicado oficial e sua mãe dizia: “meu filho não morreu!”. Quando ele saiu do coma, a primeira coisa que pensou foi: “não estou em Londres”. “Aos poucos você vai se lembrando de pedaços das coisas, como quebra-cabeça”, comentou. Então, ele pediu papel e, com muita dificuldade, escreveu: “Meu nome é Ricardo Trajano”, papel que guarda até hoje. “Aí o hospital ligou para minha casa para informar que eu estava vivo. O velório virou uma festa”. Ricardo ficou dois meses internado em UTI em Paris, e outro mês no Rio de Janeiro, tratando queimaduras graves nas costas.

O palestrante mostrou seu lado rockeiro

“Uma coisa que aprendi passando tanto tempo em UTI, vendo o trabalho dos médicos, das enfermeiras, daquela equipe complexa, e o esforço dos próprios pacientes, é que ninguém faz nada sozinho, e a engenharia sabe muito bem disso. E precisa fazer com sintonia, sinergia e simpatia”, disse, entre os diversos ensinamentos de vida que compartilhou.

"Mais louco é quem me diz, e não é feliz"

Depois de curado, Trajano ganhou da Varig passagens de primeira classe para ir conhecer a tão sonhada Londres. “As pessoas perguntam se eu não tenho medo de avião, mas a verdade é que há um acidente a cada três milhões de voos. Precisa ter 8100 anos para que aconteça um acidente a uma pessoa. Calhou de acontecer para mim aquela vez. Eu sinto gratidão. Um amigo me diz: ‘aquela coisa que você sentiu te segurando não era a morte te abraçando, era a vida te protegendo’. Não acho que a gente tem que se vitimizar”, e tocou no violão um trecho da Balada do Louco, dos Mutantes.

Beatriz Craveiro
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: Sto Rei e Impacto/Confea

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