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A meteorologia como elemento de redução das incertezas climáticas e desenvolvimento sustentável


Créditos: Sto Rei e Impacto/Confea

A meteorologia como elemento de redução das incertezas climáticas e desenvolvimento sustentável foi o tema do painel realizado no Auditório Congo, na tarde de terça (7). Moderado pela eng. amb. Nanci Walter, presidente do Crea-RS, o encontro trouxe a preocupação dos palestrantes sobre a diminuição do mapeamento e do monitoramento meteorológico no país. A engenheira Nanci ressaltou a importância do tema em tempos de mudanças climáticas.

O meteorologista Lúcio Silva de Souza defendeu o uso de ferramentas de redução das incertezas nas ações climáticas e chamou atenção para a diminuição dos mapeamentos de áreas de inundação, destacando que a falta de atualização desses estudos compromete o planejamento e a segurança das comunidades. Durante sua apresentação, ele listou dados sobre a evolução dos eventos extremos nos últimos anos e apontou a alta dependência de tecnologias para o monitoramento climático.

Souza explicou que o mapeamento meteorológico e hidrológico depende de um conjunto de ferramentas e tecnologias, como radares meteorológicos, sensores remotos, estações pluviométricas, modelos numéricos de previsão do tempo, além de imagens de satélite e sistemas de georreferenciamento (GIS). Segundo ele, a integração desses dados permite identificar áreas vulneráveis, prever volumes de chuva e planejar medidas preventivas.

Durante a exposição, o meteorologista também citou os principais episódios de chuvas e inundações registrados no Rio de Janeiro, que resultaram em graves prejuízos materiais e perda de vidas. Ele frisou que muitos desses desastres poderiam ter sido minimizados com o uso adequado das ferramentas de mapeamento e a presença de profissionais habilitados na elaboração dos planos preventivos.

meteorologista Lúcio Silva de Souza

Souza ponderou ainda que as inundações não podem ser atribuídas apenas às mudanças climáticas. Para ele, o problema também passa pela ausência de profissionais qualificados atuando nos mapeamentos, além da falta de fiscalização e de políticas públicas permanentes.
"O que vemos é uma combinação de fatores: menos investimento em prevenção, menos profissionais técnicos envolvidos e uma fiscalização que não acompanha a realidade das cidades", afirmou o meteorologista.

Ele reforçou que a atuação técnica e responsável de profissionais habilitados, aliada ao uso correto das ferramentas de monitoramento, é essencial para garantir o planejamento adequado, reduzir riscos e proteger vidas diante dos eventos climáticos cada vez mais intensos.


Meteorologia no Brasil: desafios e lacunas no monitoramento

Em sua palestra, o meteorologista José Carlos Figueiredo também lamentou a diminuição do monitoramento do tempo e da modernização de estruturas, além do fechamento de institutos meteorológicos "que têm o objetivo de fazer a vigilância para garantir a vida".

Ele ressaltou o quanto a meteorologia é importante em situações de guerra e na Marinha, explicando que é feita de equações. "Como modernizar estruturas para fazer com que as equações respondam com eficácia e grande escala? A experiência e o conhecimento técnico são fundamentais para a leitura e detecção das tempestades, contribuindo, por exemplo, para orientar pessoas que estão nas estradas."

Figueiredo destacou que cada radar meteorológico custa cerca de R$ 5 milhões, e o Brasil conta atualmente com apenas dois em algumas regiões. Ele ainda apontou a ausência de fiscalização.

José Carlos Figueiredo

 

O especialista citou órgãos que atuam no monitoramento meteorológico, como IPMET, CPTEC e Simepar, e explicou a importância de diferentes tecnologias: radares meteorológicos, estações coletoras de dados em tempo real e em horários especiais, satélites e sistemas de detecção de descargas elétricas.

Durante sua apresentação, mostrou um mapa com várias regiões sem nenhum radar de monitoramento, ressaltando que grande parte do país está praticamente sem cobertura. Comparou a situação com os Estados Unidos, onde todo o território é rigorosamente monitorado, com radares e sistemas de alerta avançados, garantindo que qualquer evento meteorológico seja acompanhado em tempo real.

Questionou ainda se existe algum lugar em que, quando chove, as pessoas não deveriam se dirigir, enfatizando a necessidade de atenção, planejamento e investimentos em monitoramento para reduzir riscos à população.


Meteorologia para assegurar o desenvolvimento sustentável

Em sua palestra, o eng. agr. e climatologista Eronildo Braga Bezerra trouxe uma reflexão sobre desenvolvimento sustentável. Segundo ele, não se deve confundir sustentabilidade apenas com a preservação de recursos florestais. É possível incentivar o desenvolvimento, indispensável para um país, implementando práticas sustentáveis que também contribuam para a redução da desigualdade.

Eronildo Braga Bezerra

"A meteorologia tem papel fundamental ao monitorar e trazer dados para o planejamento. Não há desenvolvimento sem sustentabilidade, nem sustentabilidade sem desenvolvimento. Partimos da premissa de que todos os recursos são finitos e de que toda ação humana provoca impacto ambiental. A solução é investir em ciência e tecnologia para que o desenvolvimento ocorra com menor impacto ambiental", salientou.

O palestrante traçou um histórico da atuação humana, lembrando que, no início, o impacto era pequeno, mesmo com o desenvolvimento da agricultura, devido à população reduzida e à simplicidade dos meios de produção.

Ele também apresentou dados atuais sobre a crise climática mundial, ressaltando o papel do Brasil como parte da solução: em 2023, o país emitiu 1,3 bilhão de toneladas de CO2, o que representa 6,16 toneladas por habitante.

Segundo Bezerra, a ciência precisa de dados confiáveis. "Trabalhamos com números e mapas, que retratam o absoluto da incerteza. Como fazer previsão se não temos dados validados? Não há padrão, e a escassez de dados de campo nos deixa diante de uma grande incerteza", explicou.

Ele ressaltou que, para avançar no desenvolvimento sustentável, é preciso definir uma pauta mínima, com consciência de que os recursos são finitos e que ações estratégicas devem reduzir assimetrias nacionais e regionais.

Reportagem: Jô Santucci (Crea-RS)
Edição: Julianna Curado (Confea)
Equipe de Comunicação da 80ª Soea
Fotos: Sto Rei e Impacto/Confea

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