Na manhã desta terça-feira (4), a Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados realizou audiência pública sobre obras de arte especiais nas rodovias e o sistema “pare e siga” em pontes. O debate foi proposto pelos deputados Leônidas Cristino e Afonso Hamm.
Representando o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), o engenheiro civil Joni Matos Incheglu destacou a preocupação do presidente do Confea, Vinicius Marchese, com os dados divulgados pela mídia sobre a precariedade das pontes brasileiras — estimadas em cerca de 11 mil estruturas em risco de colapso. “A partir dessa realidade, e em parceria com a presidente do Crea-SP, foi criado o Comitê de Pontes e Viadutos do Crea São Paulo”, explicou.
Segundo ele, o comitê tem como objetivo elaborar um plano de trabalho e de priorização, considerando o grau de urgência das situações identificadas. “Os inspetores serão acionados e capacitados para executar o diagnóstico técnico, definir metodologias, padronizar as inspeções e, a partir daí, realizar os levantamentos em campo”, detalhou.
Incheglu também citou o programa de manutenção de pontes da Prefeitura de São Paulo como um bom exemplo a ser seguido. “O programa analisa as condições iniciais e o cenário atual das pontes, com mapeamento e modelagem em BIM, que proporciona um detalhamento técnico consistente. Esse modelo permite uma gestão mais eficiente dos ativos e um programa de manutenção mais assertivo, em conformidade com as normas técnicas”, explicou.
O engenheiro encerrou sua fala convidando os presentes para o lançamento do Manual Orientativo – Inspeção em Estruturas de Concreto: Pontes e Viadutos, desenvolvido em parceria com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O evento ocorrerá no Auditório da Sede Angélica do Crea-SP.
Segurança das pontes
Em sua apresentação, o professor da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Helene, ressaltou que a preocupação com a segurança das pontes é um tema mundial. Segundo ele, o ideal seria destinar cerca de 2% do valor da obra por ano à manutenção, incluindo inspeções e eventuais interdições. “Ao longo de 50 anos, esse investimento corresponderia aproximadamente ao valor da própria ponte, o que reforça a importância de uma política de conservação contínua”, afirmou.
Helene alertou para a necessidade de atenção especial às obras com mais de 50 anos, especialmente as pontes protendidas, como as pontes dos Remédios e do Socorro, em São Paulo. “Essas estruturas exigem prioridade nas inspeções, pois envolvem cabos e componentes de difícil acesso. São vistorias complexas, que demandam profissionais qualificados e equipamentos adequados”, destacou.
O professor também defendeu a capacitação do corpo técnico responsável pelos diagnósticos e projetos de intervenção, com o objetivo de garantir inspeções e soluções de qualidade. “A resposta está em manter um programa intenso de inspeção e diagnóstico, capaz de antecipar problemas e evitar colapsos”, completou. Por fim, defendeu o diálogo entre academia e mercado, ressaltando que o país precisa formar engenheiros altamente qualificados para sustentar o desenvolvimento da infraestrutura nacional. “O Brasil investe apenas 2% do PIB em infraestrutura, o que é insuficiente para atender às demandas de crescimento e segurança”, concluiu Helene.
Infraestrutura e planejamento de longo prazo
O diretor de Relações Institucionais da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Valter Luís de Souza, destacou a importância de garantir investimentos contínuos para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e o Ministério dos Transportes. Durante sua participação, Souza apresentou um gráfico com dados dos últimos 25 anos, que mostram oscilações significativas nos investimentos públicos no setor. O ponto mais alto foi registrado em 2012, quando os recursos ultrapassaram R$ 51 bilhões, impulsionados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Infraestrutura deve ser um projeto de Estado, e não de governo”, afirmou o diretor, ressaltando que o país precisa de políticas de longo prazo para garantir a conservação e modernização das obras de arte especiais, como pontes e viadutos.
Valter lembrou ainda que dois terços da carga brasileira são transportados por rodovias, o que torna ainda mais urgente assegurar recursos estáveis e políticas permanentes para o setor.
Veja como foi o debate:
Fernanda Pimentel / Equipe de Comunicação do Confea



