1º Summit de Inteligência Artificial do CREA-RS: A Engenharia sendo motor da transformação tecnológica

Créditos: Arquivo CREA-RS
O Auditório Farroupilha, na sede do CREA-RS, ficou praticamente lotado durante o 1º Summit de Inteligência Artificial, evento dedicado à discussão e à aplicação prática da IA nas engenharias, na agronomia e nas geociências. Ao longo do dia, especialistas de diversas áreas apresentaram palestras e participaram de painéis sobre o uso estratégico, ético e responsável da tecnologia.
A presidente do Conselho, Eng. Amb. Nanci Walter, destacou na abertura o papel transformador da IA no futuro das profissões, afirmando que a ferramenta, quando aplicada com ética e responsabilidade, potencializa o trabalho técnico, impulsiona carreiras e amplia a capacidade de análise e inovação dos profissionais. O evento foi promovido em parceria com o Instituto Brasileiro de Inteligência Artificial (IBIA).

Eng. Nanci também comentou sobre as obras na sede do Conselho, que permitiram a entrega do novo auditório em cem dias. "Foi um processo que envolveu uma ampla reengenharia e representou um grande desafio a todos os envolvidos, entre edital e alvarás, resultando em um espaço totalmente regularizado e pronto para uso, motivo de orgulho para nós profissionais."
IA e Engenharia: o futuro já começou

A palestra de abertura foi conduzida pelo Eng. Mamede Jr., especialista em inovação, que abordou a velocidade da evolução tecnológica e seu impacto direto no trabalho dos engenheiros. Ele destacou que foram 60 anos de criação para três anos de evolução desde o surgimento da IA até as generativas, como o ChatGPT, e que a tecnologia pode adicionar até US$ 4,4 trilhões à economia global por ano.
Ressaltou ainda que cerca de 40% das tarefas atuais tendem a ser automatizadas e que a adoção da IA deve ser orientada por propósito, e não apenas pela implementação de ferramentas. "A tecnologia não substitui engenheiros, mas amplia sua capacidade de atuação, lembrando que nenhuma ferramenta assina uma ART e que a decisão técnica sempre será humana. O mundo precisa de engenheiros que dominem a IA, não que a temam", destacou.
IA, Sustentabilidade e Cidades Inteligentes
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Na sequência, o diretor do Departamento de Conhecimento para Inovação, Ciência e Tecnologia do Governo do RS, Guilherme Camboim, apresentou os desafios e as possibilidades da IA aplicada às cidades inteligentes. Ele destacou que o principal objetivo da tecnologia deve ser melhorar a qualidade de vida da população e ressaltou a importância da integração de dados entre diferentes setores públicos.
Camboim abordou ainda a aplicação da IA para aumentar a resiliência das cidades diante de eventos climáticos extremos, defendendo a necessidade de mapeamentos qualificados, infraestrutura tecnológica e governança para permitir decisões baseadas em dados."A cidade inteligente já é resiliente em sua natureza, pois você aproveita de todas essas tecnologias, com integração, e assim poder atuar para que impactos de desastres sejam previstos e mitigados.”
Entre os principais gargalos para implantação destas tecnologias, apontou questões culturais, planejamento, integrações institucionais e investimentos em infraestrutura digital.
IA na Prática: Casos Reais que Estão Transformando o Brasil

O segundo painel do evento, mediado por Eduardo Cavalcanti (IBIA), tratou de casos reais de uso da IA no Brasil e contou com a participação do advogado Victor Schneider, da Eng. Rafaela Zanchet e do Eng. Lucas Reginatto.
Rafaela destacou que, na área de segurança contra incêndio, ontem tem atuação, a IA ainda está em fase experimental e não pode substituir o julgamento técnico, já que um erro pode custar vidas. "A Inteligência Artificial não pode ser o teu poder decisório, senão vamos esbarrar nestas questões de vulnerabilidade." Ela apresentou, ainda, pesquisas sobre sistemas capazes de alertar sobre explosões de baterias de veículos elétricos com até 60 segundos de antecedência.
Reginatto explicou o funcionamento de uma plataforma de IA capaz de gerar laudos estruturais em até 15 minutos, aprendendo com o modo de trabalho de cada engenheiro. Ele aconselhou os profissionais a observarem quais tarefas consomem mais tempo e não agregam valor, pois esse é o ponto de partida para identificar oportunidades de automação.“Se vocês têm essa resposta já vão poder encontrar uma ferramenta para fazer isso por vocês.”
Já o advogado Victor Schneider relatou ganhos de produtividade no escritório em que atua, enfatizando a importância de estudar profundamente os parâmetros de uso da IA e priorizar a segurança dos dados. "Mesmo com muito procedimento e automações não dá cinco por cento do que pretendemos. Meu conselho é que vocês se aprofundem em pesquisa o máximo que vocês conseguirem sobre a IA."
Jovem Engenheiro Inovador: Gestão de Obras e IA

O painel seguinte abordou o uso de IA na gestão de obras e contou com a participação do pesquisador Arthur, da Construct IN, que apresentou soluções baseadas em imagens 360º. Ele explicou que câmeras acopladas aos capacetes dos profissionais registram diariamente o andamento das obras, gerando dados que podem ser utilizados para análises de avanço físico, detecção automática de uso de EPIs, comparação entre planejado e executado e medições automatizadas.
"O maior desafio para a digitalização dos canteiros de obra é cultural", destacou e defendeu que a tecnologia deve ser testada com responsabilidade, reforçando que é totalmente acessível no Brasil. Segundo ele, quanto mais cedo os dados forem coletados, melhor será o desempenho dos modelos de IA adaptados à realidade do país.
Governança e Responsabilidade na Era da IA: o que o engenheiro precisa saber agora

O painel sobre governança e responsabilidade contou com a mediação do Eng. Fábio Chaves e com a participação do Dr. Filipe Pereira Mallmann, conselheiro da OAB/RS e especialista em Direito Digital.
Mallmann destacou que embora a popularização da IA tenha ganhado força após 2023, os algoritmos que sustentam esses modelos existem há décadas. Ele reforçou que a responsabilidade técnica permanece com o profissional que assina o documento ou projeto e que não se deve terceirizar o pensamento para a máquina.
Para o jurista, a IA segura é aquela usada sob supervisão constante, com revisão humana obrigatória e com regras internas de governança bem definidas. "Não podemos terceirizar nosso pensamento, mas podemos experimentar as ferramentas que nós temos aqui hoje. Tu pode ter a decisão automatizada, mas tu precisa ter a responsabilidade e, principalmente a revisão humana."
Do CAD à IA: como a engenharia digital está transformando a indústria
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Encerrando o evento, o Eng. Mecânico Victor Florindo, da Dassault Systèmes, apresentou a palestra sobre a transformação digital da indústria, explicando as diferenças entre IA assistiva, preditiva e generativa. Ele demonstrou aplicações no SolidWorks, como automação de tarefas repetitivas, aceleração de ajustes em projetos e criação de modelos 3D a partir de fotografias, com o recurso Aura. Florindo ressaltou que a IA não substitui atividades técnicas de um dia para o outro, mas pode antecipar situações e aprimorar processos, contribuindo para maior agilidade e eficiência na engenharia.

