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Integrantes de força-tarefa participam de capacitação do MPT-RS da Escola Ocra


O treinamento abordou normas técnicas referentes à movimentação de carga . Créditos: Arquivo CREA-RS

Durante três dias, integrantes da força-tarefa estadual – que desde 2014, capitaneada pelo Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul (MPT-RS), investiga o meio ambiente do trabalho nos frigoríficos e hospitais – participaram, em fevereiro, de uma capacitação, ministrada pelos professores Ruddy Facci e Edoardo Santino, médicos do trabalho e diretores da Escola Ocra. É uma escola internacional de ergonomia que disponibiliza ferramenta para a gestão científica do risco para o sistema musculo-esquelético (membros superiores e coluna lombo-sacra). Também ensinam como fazer a projetação de postos de trabalho, já identificando e quantificando o risco, bem como reprojetar postos de trabalho para reduzir os riscos, adequando-os às melhores condições
Segundo Ruddy Facci, o treinamento abordou as normas técnicas referentes à movimentação de carga. “Tratamos dos riscos para as colunas dos trabalhadores quando eles movimentam as cargas, seja de levantar, transportar, puxar ou empurrar cargas. Apresentamos metodologias diferentes através de software especialmente desenvolvido para esta finalidade. Toda esta metodologia está sendo certificada pela ISO internacional. Portanto, são metodologias avaliadas e aceitas no mundo inteiro, como métodos científicos e quantitativo”, explica.
Segundo ele, no final os integrantes são avaliados e se atingirem a pontuação exigida receberão um certificado internacional comprovando que estão habilitados a utilizarem a metodologia. 
“Ao dominarem esta metodologia, os integrantes da força-tarefa não só poderão avaliarem mais rapidamente os riscos de qualquer ação, mas poderão identificar o risco e propor soluções para eliminar ou minimizá-los”, explica. 
O médico lembra ainda que estas ferramentas são métodos inovadores no Brasil, que não utilizava metodologias científicas. “Eram usadas metodologias mais quantitativas, sem codificar o risco. Agora, com um padrão de normalidade é possível identificar quando ultrapassa este padrão, o risco quantificável e obter uma estatística confiável”, detalha.
De acordo com o doutor Edoardo Santino, a metodologia também é muito procurada por empresas, engenheiros e outros trabalhadores. “Estas ferramentas servem para que as empresas possam fazer uma avaliação e corrigir os riscos. Permite que os gestores dialoguem em nível científico com sindicatos, Conselhos, MPT, empregados”, detalha, ressaltando que o curso não se trata de política, mas de avaliação de riscos conforme normas internacionais. 
Professores Ruddy Facci (à esq.) e Edoardo Santino, médicos do trabalho e diretores da Escola Ocra“O Brasil é signatário destas normas, que são traduzidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Por exemplo, a ABNT publicou, em 14 de abril, a NBR ISO 11228-3:2014 - Ergonomia - Movimentação manual - Parte 3: Movimentação de cargas leves em alta frequência de repetição. Esta parte fornece recomendações ergonômicas para tarefas de trabalho repetitivo que envolvem movimentação manual de cargas leves em alta frequência. Ela fornece orientações sobre a identificação e avaliação de fatores de risco comumente associados à movimentação de cargas leves em alta frequência, permitindo, assim, a avaliação dos riscos de saúde relacionados à população trabalhadora”, explica o Dr. Ruddy Facci. 
Segundo ele, o curso abordou a norma sobre Movimentação Manual de Carga, que foi colocada em consulta pública, neste ano, mas já foi aprovada. “Ela será publicada agora como norma brasileira, o que significa que se tornará obrigatória, portanto passível de fiscalização”, complementa.
Para o dr.  Edoardo Santino, a metodologia pode contribuir muito para maior segurança no trabalho e facilitar as ações das forças tarefas.

As forças-tarefas reúnem multiplicidade de conhecimento

MPT-RS
O procurador do Trabalho Ricardo Garcia, do Ministério Público do Trabalho, em Caxias do Sul, destacou a qualificação fornecida por capacitações como esta. “O curso fornece mais subsídios para que os membros da força tarefa avaliem mais rapidamente os riscos de sobrecarga ergonômicos nas tarefas que encontramos nos hospitais e nos frigoríficos. Além disso, promove um olhar mais crítico por parte da fiscalização. Teremos uma elevação da qualidade de toda a força tarefa”, reconhece.
Segundo ele, este é o terceiro curso. “O primeiro voltou-se, exclusivamente, para hospitais. O segundo, além de hospitais, abordou normas relacionadas aos frigoríficos, como as que tratam de movimentos repetitivos dos membros superiores, sobrecarga. Neste terceiro, estamos verificando uma metodologia que avalia os riscos na atividade de empurrar e puxar carrinhos de todos os tipos, desde magazines em frigoríficos até cadeiras de roda, macas em hospital”, explica.
Para o Dr. Ricardo, essas capacitações promovem a multiplicação da metodologia. “Os integrantes podem difundir as ideias e os princípios ergonômicos no CREA, por exemplo, entre os agentes fiscais, conselheiros, agregando mais profissionais, no sentido de trazer a boa prática ergonômica no dia a dia dos trabalhadores”, ressalta.
Salienta ainda que, nas forças tarefas, os integrantes vão avaliar mais rapidamente as atividades. “Logo no início já perceberão se há risco ou não. A identificação do risco ergonômico é complexo, mas há metodologias importantes que devem ser seguidas para permitir e evitar os riscos”, completa.

CREA-RS
Representantes do CREA, professores e o procurador do MPTO Conselho Regional de Engenharia e Agronomia é um dos integrantes desta força-tarefa desde o início. Presente no curso, o gerente da Fiscalização do CREA-RS, o Engenheiro Químico e de Segurança do Trabalho Marino Greco ressalta o papel do Conselho nas forças tarefas capitaneadas pelo MPT-RS em frigoríficos e hospitais em prol da valorização profissional. “Considerando as nossas responsabilidades sociais, este tipo de fiscalização, extremamente técnica e legal, tem contribuído para qualificar, significativamente, o nosso núcleo técnico, as chefias e os agentes fiscais que participam destas forças-tarefas. 
Também reconhece a importância da capacitação sobre as normas. “O curso proporciona um olhar mais apurado para algumas questões técnicas que antes poderiam passar despercebidas. Amplia nossa visão como força-tarefa, como CREA, como fiscalização e nos torna muito mais criteriosos”, explica.
Segundo ele, dentro das ações deste termo de cooperação técnica, há um grupo de profissionais que aplicam um conhecimento muldisciplinar, o que amplia a própria fiscalização. “Estamos junto com enfermeiro do trabalho, médicos, fisioterapeutas, técnicos e engenheiros de segurança, produzindo uma visão multidisciplinar fantástica e um acúmulo de conhecimento”, afirma. 
Salienta ainda que a fiscalização do CREA-RS participa de várias demandas com o MPT-RS, com acompanhamento direto da gerência e dos chefes dos Núcleos Técnico e Operacional. “Com este trabalho conjunto, conseguimos ampliar as ações de fiscalização em vários locais. Por outro lado, precisamos sempre buscar a qualificação, porque estamos falando em inquéritos civis e termos de ajustamento de conduta”, justifica.
O gerente ressalta o caráter orientativo das ações no sentido de contribuir para a valorização profissional. “Inúmeras empresas que foram fiscalizadas, por exemplo, chegam a dizer que é como se o CREA e as demais instituições participantes tivessem realizando o papel de auditores. Levamos uma visão externa técnica e legal. Muitas vezes orientamos sobre os possíveis pontos de melhorias na área da saúde da segurança do trabalhador, por exemplo”, detalha. 
“Podemos dizer que já influenciamos na melhora da qualidade de vida de mais de 20 mil trabalhadores em 2016, com as forças-tarefas em frigoríficos e hospitais. No momento em que há melhoria do ambiente do trabalho, saúde e segurança, ocorrem menos doenças e acidentes aos trabalhadores e melhora a sua qualidade de vida. Talvez isso seja o melhor de tudo: estar participando nesta força-tarefa, assumindo este compromisso, esta responsabilidade com as pessoas e a sociedade. Para isso, temos que estar qualificados”, finaliza.

Cerest Vales, de Santa Cruz
Adriana Skamvetsakis, médica do Trabalho do Cerest Vales, elogia a capacitação recebida. “Há uma gama de muitos fatores que estão presentes no ambiente do trabalho que impactam na saúde do trabalhador. Muitas destas questões são difíceis de serem traduzidas de uma forma cientifica, isto é, que seja entendida e reconhecida tanto pelo corpo técnico, pelos trabalhadores, quanto os gestores, que são quem podem intervir ou que devem permitir as intervenções necessárias para melhorar o ambiente de trabalho”, afirma.
A médica explica que os métodos ensinados no curso permitem que as avaliações feitas pelos integrantes das forças-tarefas tenham um reconhecimento técnico e um padrão reconhecido internacionalmente. “Um método que não poderá ser questionado.” 
“Na verdade, em nossa atuação, essas ferramentas confirmam o que temos visto e que seria necessário mudar, atestando, desta forma, as conclusões de nosso trabalho”, defende.
“Será mais difícil de ser questionado qualquer avaliação, porque temos um argumento científico para justificar o que está sendo apontado. Fortalece a nossa intervenção e aprimora a nossa fiscalização, pois a nossa avaliação deixa de ser vista como uma análise subjetiva, para a ser considerada com o teor científico”, destaca 
Ela aproveita para elogiar as forças tarefas, quando reúnem várias instituições, por considerar bem enriquecedor para os profissionais que participam. “Além disso, o produto destas ações, os relatórios e avaliações, é bem mais qualificado, porque são domínios de conhecimentos diferentes, mas que se complementam. Esta multidisciplinaridade produz conhecimento. É uma ação rica, tanto para quem está atuando, os agentes fiscais, quanto para a empresa que é fiscalizada, que dificilmente terá de sua equipe de trabalho um feedback tão completo. Acho até difícil contratar uma consultoria ou uma assessoria com olhares tão múltiplos nos relatórios minuciosos entregues. 

Conhecimento técnico diferente em busca de melhores condições de saúde do trabalhador


Cerest Macronorte

A médica do trabalho Juliana Lima Barbosa Fiuza do Cerest Macronorte, com sede em Palmeira das Missões e Cerest Nordeste com sede em Passo Fundo, também destaca a multiplicidade da equipe das forças-tarefas. “No caso dos Cerests eu vejo como muito importante porque eles são formados por equipes multiprofissionais, cada um com seu conhecimento. Nesta questão específica da ergonomia, da análise de risco, é difícil profissionais nos Cerests com qualificação nesta área”, afirma.
Reconhece a visibilidade que o Cerest ganhou nas forças-tarefas. “Os Cerests promovem ações para melhorar as condições de trabalho e a qualidade de vida do trabalhador por meio da prevenção e vigilância”, avalia.
Essas ações, segundo ela, uniu vários órgãos, “com conhecimento técnicos diferentes” para que haja melhores condições de saúde do trabalhador”. 

Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA)

Como integrante da coordenação nacional da ergonomia, a fisioterapeuta Carine Taís Guagnini Benedet (de Caxias do Sul), que presta serviço para a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA), explica que os cursos são apropriados para todos os representantes das entidades que compõem a força-tarefa, “que tomou um dimensão muito grande”. “Nós iniciamos em frigoríficos agora estamos em hospitais e temos projetos futuros para outros setores. As ações trazem uma grande demanda para a ergonomia, exigindo que houvesse capacitações em ergonomia para todo pessoal das equipes que trabalham na força-tarefa”, detalha.
Para ela, depois destas ações, os frigoríficos já têm uma realidade, uma mudança mais real, a gente já consegue ver. “As empresas estão realmente trabalhando e investindo em ergonomia, seja no profissional, seja na saúde do trabalhador, em frigoríficos. Mas, também, encontramos retrocessos. Onde fizemos a primeira vez, em 2014, retornamos no final do ano passado e a parte da ergonomia declinou. Este resultado pode ser por falta de treinamento ou de gestão”, lamenta.
Ainda segundo Carine, há uma ausência de plano de ergonomia na organização de trabalho dos frigoríficos, que depende da gestão. “Há a questão cultural da resistência da mudança.  Nos hospitais, é diferente, porque estamos trabalhando para cuidar da saúde de quem cuida da saúde do próximo. Então, tem um olhar bem diferenciado porque o trabalhador, o cuidador da saúde do coirmão, ele não cuida da sua saúde e aí nós entramos ergonomicamente. Olhando postura, coluna, membros superiores, manuseio de pacientes no leito, peso. Este é o olhar que a gente leva e, hoje, os profissionais das empresas estão procurando sim capacitar para suprir esta necessidade de mercado. Mas isto é uma realidade aqui do RS, não se aplica ao resto do país”, ressalta. 
De acordo com a fisioterapeuta, impressiona encontrar profissionais de nível superior e com conhecimento diferenciado mas que deixam a sua saúde para trás para atender outro. “Se o profissional não está bem, como poderá cuidar do outro. É esse choque”, lamenta.
Destaca ainda a importância das visões de vários profissionais nas ações das forças-tarefas. “O CREA, por exemplo, tem um vasto conhecimento em máquinas. E nós temos o conhecimento em ergonomia da máquina, do trabalhador, do indivíduo, junto com o conhecimento do engenheiro. Também há o conhecimento da vigilância em saúde, que traz os dados epidemiológicos da saúde do trabalhador, dos adoecimentos, que tem correlação com a ergonomia: ombro, ósseo muscular. Conseguimos verificar qual é o setor que mais adoece. Tudo ligado, uma entidade, um profissional está ligado ao trabalho do outro. E, no final, cada um emite o seu relatório com a sua habilitação”, finaliza.

 

 

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