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Acidente de Mariana é relembrado em Colatina


Evento reuniu dezenas de profissionais e estudantes . Créditos: Arquivo CREA-RS

“Somos todos Rio Doce”. A frase dita pelo deputado federal Paulo Foletto foi uma das muitas aplaudidas durante a abertura do terceiro Preparatório da Engenharia e da Agronomia para o Fórum Mundial da Água. O evento está sendo realizado no município capixaba de Colatina, com programação que segue até esta quarta-feira (12/7)

“A água é o fundamento da vida. Foi assim no passado, é agora, e será no futuro. Não dar a devida atenção à água é não dar atenção para a própria vida”. Assim iniciou seu discurso de abertura o presidente do Confea, José Tadeu da Silva, que, em seguida, explicou o objetivo do evento: “Estamos aproveitando a realização do Fórum Mundial da Água para fazer essa discussão em todo o Brasil. Nós, do Conselho Federal, temos que ter essa fotografia do que acontece no país. Temos que vir aqui, ouvir as pessoas, saber o que aconteceu, o que está acontecendo. O Confea faz esse investimento em todo o território nacional para que profissionais possam transmitir conhecimentos, levantar problemas, discuti-los e apresentar soluções para a qualidade de vida da população. Nós, da engenharia e da agronomia, estamos prontos para construir uma ponte para a paz do planeta”, encerrou.

Desde o início do ano, o Confea, em parceria com os Creas, vem promovendo encontros entre profissionais, pesquisadores e gestores públicos, para colher contribuições regionais a respeito de gestão de recursos hídricos, que serão levadas ao Fórum Mundial, a ser realizado em 2018, em Brasília – pela primeira vez no Hemisfério Sul. “Sabemos, que o Fórum não vem para o Brasil de graça. Nós somos a maior fonte de recursos hídricos do mundo. Temos o Rio Amazonas, o Rio São Francisco...”, apontou José Tadeu. 

O presidente do CREA-ES, Helder Carnielli, anfitrião do evento, destacou a importância dos debates que o Confea tem promovido em todo o território nacional. “Conseguiremos entrar em 2018 com algo contundente e seguro para construir o uso da água como modelo de governança democrática”. Primeiro a falar na solenidade de abertura, Carnielli chamou atenção para o rompimento da barragem de Mariana - “um acidente catastrófico” -, ocorrido em novembro de 2015, que foi classificado como o maior acidente ambiental do planeta. “Colatina ficou muito tempo sem poder tirar água do Rio”, relembrou. 
 
O prefeito de Colatina, Sergio Meneguelli, agradeceu a oportunidade de receber profissionais da engenharia e da agronomia para se discutir recursos hídricos na região. “É muito oportuno esse evento na nossa cidade”. O prefeito lembrou que, apesar de o Brasil hospedar a maior bacia hidrográfica do mundo, ainda há muita sede no país. Para ele, devem ser discutidas tecnologias já aplicadas em outros lugares, como a irrigação gota a gota utilizada em Israel – um país que fica no deserto -,  enquanto no Brasil o sistema de irrigação ainda desperdiça muita água. “A gente tem que ter consciência de que a crise hídrica não é passageira. Ela veio para ficar. Temos que aprender a conviver com ela”.

Na ocasião, Meneguelli contou sobre um projeto que está implantando na cidade, de que as farmácias tenham, obrigatoriamente, um depósito visível para descartes de remédios vencidos. “Jogam-se fora na pia, na descarga, e é nosso Rio Doce que recebe. Essas substâncias podem matar cardumes”. 

Tragédia da barragem de Mariana
Tema destacado durante a solenidade de abertura do Preparatório, o rompimento da barragem de Mariana prejudicou comunidades de Minas Gerais e do Espírito Santo, principalmente a região de Colatina. Daí a escolha do município para a realização do evento. “Quando causamos dano à natureza, ela não grita. Ela fica silenciosa. Mas a resposta vem depois de forma dura”, refletiu o presidente do Confea, José Tadeu da Silva.

Presente à solenidade, o prefeito de Colatina, Sérgio Meneguelli, relembrou e lamentou o acidente. “A tragédia de Mariana foi uma punhalada”, disse, ao contar para os participantes sobre como foi o período após o acidente. “Nós não só vimos o Rio Doce morrer, mas também chamamos a atenção sobre o que será de nós se um dia esse rio faltar”. Ele contou que, no período, o município não teve alternativa a não ser continuar utilizando a água contaminada. “A cor não era de rio, nem de terra. Era uma cor tão horrível, que nunca aprendi o nome”.

Outro município capixaba que sofre bastante as consequências do rompimento da barragem de Mariana é Baixo Guandu, cujo prefeito, Neto Barros, também prestigiou a abertura do Preparatório de Colatina. “Esse encontro vem reviver discussões sobre todo o desgaste que a natureza tem sofrido nesta região. O mal que a Samarco causou ainda não foi apreendido pela grande maioria. Isso vai ser sentido ao longo de séculos”, afirmou. 

Também presente na abertura do encontro, o presidente do CREA-MG, Jobson de Andrade, representou o outro estado vítima do acidente. “Nossa postura enquanto engenheiros não pode ser outra que não apurar a causa da tragédia. São lições aprendidas, que devem ser medidas, reparadas e punidas, para manter o equilíbrio daquelas comunidades afetadas. Nós da engenharia temos o dever primeiro de entender as causas dos acidentes para depois buscarmos mais proteção e evitar que aquela fragilidade possa de novo acontecer”. Jobson se disse otimista com a recuperação do Rio Doce.

Representando o governador do estado, o subsecretário do Trabalho, Emprego e Geração de Renda do Espírito Santo, Sérgio Augusto de Magalhães, defendeu que só o homem pode consertar o dano que ele mesmo causou à natureza. “Os protagonistas dessas soluções estão aqui. Tenho certeza de que esse evento contribuirá na busca dessas soluções".
 
Educação ambiental
Durante seu discurso, o prefeito da cidade, Sérgio Meneguelli, mostrou o brasão do estado, que registra dois troncos de árvore. Ele explicou que a madeira já foi a principal atividade econômica do Espírito Santo, mas se esgotou. “Na escola, aprendi que a madeira era importante, mas nunca nos ensinaram que tínhamos que cultivar as árvores. Apenas sabíamos que era um importante produto de consumo”. A partir desse depoimento, o prefeito defendeu uma maior ênfase na educação ambiental. “Temos que falar da crise hídrica desde o pré-primário. Se cada um de nós começarmos em casa a educar nossos filhos, talvez possamos proporcionar um futuro menos sofredor para a geração que está despontando”.

Da mesma opinião partilha o presidente do Confea, para quem, se educação ambiental não for priorizada, o futuro da espécie humana será incerto. “Temos que começar pelas escolas, pelas crianças. Porque o respeito à natureza é uma questão de berço – precisamos aprender em casa”, defendeu. Para o prefeito de Baixo Guandu, Neto Barros, ao levar a problemática para dentro das casas, o tema pode entrar nas pautas de políticas públicas. “Água ainda não é vista como tema a se discutir. Não entra em propostas de cunhos eleitorais – apenas quando faz falta”, argumentou.

Fonte: Beatriz Leal / Equipe de Comunicação do Confea

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