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Biomas brasileiros mapeados


Engenharia florestal terá papel essencial no Inventário Florestal Nacional. Créditos: Arquivo CREA-RS

Engenharia florestal terá papel essencial no Inventário Florestal NacionalEm dezembro, faz 25 anos da morte do sindicalista e seringueiro acreano Chico Mendes. Nesse período, muitos avanços e muitos desafios se acumularam em torno da Amazônia. A maior floresta tropical do mundo e outros ecossistemas brasileiros estarão agora mais próximos de ser compreendidos. Elaborar políticas de uso e conservação das matas, por meio do monitoramento dos recursos florestais de todos os biomas brasileiros é o objetivo do Inventário Florestal Nacional, lançado pelo Ministério do Meio Ambiente. A expectativa é que os primeiros dados sejam reunidos no segundo semestre deste ano. De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro, o programa usa uma abordagem das mais atuais dentro do estudo da Engenharia Florestal, além de atender às determinações do novo Código Florestal Brasileiro.
Cerrado, mata atlântica, pantanal, caatinga e floresta amazônica – os cinco biomas brasileiros deverão ser contemplados. Apenas entre as décadas de 1970 e 1980 houve um mapeamento semelhante, embora restrito ao mapeamento dos recursos madeireiros disponíveis. É o que explica o ex-coordenador da Câmara de Engenharia Florestal do Rio Grande do Sul, eng. ftal. Luiz Elesbão. “O inventário anterior, do qual fui coordenador no RS, em 83, só se preocupava com o volume, o potencial madeireiro. Essa nova metodologia, além do mapeamento, vai se preocupar com a comunidade do entorno, entrevistando os usuários do entorno de cada ponto monitorado”, descreve.
A nova visão do Ministério do Meio Ambiente é considerada de acordo com os princípios mais atuais da engenharia florestal. “O inventário nasce da proposta de uma política pública de desenvolvimento de uso e conservação destes recursos. O interessante é que ouve o entorno da floresta, ou seja, relaciona a importância da floresta no contexto rural, para aí traçar políticas públicas. Acho muito interessante porque vai levantar os aspectos econômicos, ecológicos e culturais da floresta”, acrescenta Luiz Elesbão.
Serviço Florestal Brasileiro - Vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, o Serviço Florestal Brasileiro tem a missão de promover o uso sustentável dos recursos florestais, coordenando as concessões florestais em terras públicas da Amazônia, atuando ainda no fomento das atividades florestais do território nacional e na geração de informações sobre recursos florestais, apoiando políticas públicas e de planejamento estratégico. O Inventário Florestal Nacional está no artigo 71 do novo Código Florestal Nacional, que define uma atuação conjunta da União, Estados e Municípios. “Já havíamos iniciado, mas agora estamos mais institucionalizados”, descreve o gerente executivo de informações florestais do Serviço Florestal Brasileiro, eng. ftal. Daniel Piotto.
Na sua visão, trata-se de um projeto sem precedentes, “uma política pública para monitorar os recursos florestais”. Em todos os biomas, explica, existem florestas. Até mesmo no Pantanal e no pampa, por exemplo. “Vamos a todos os locais, no Brasil inteiro, independente de ter floresta ou não. Os nomes (dos biomas) são mais convenções”. Ele informa que uma fonte de informação vem das parcelas de campo (conglomerado, inventário tradicional).  Mas o inventário dispõe ainda de outro componente, socioambiental, em que são feitas entrevistas próximo ao ponto amostral. “Isso é algo que era impensável antigamente”, diz. “Tem ainda o componente de análise de paisagem, em que a gente faz uma amostragem usando parcelas de sensoriamento remoto, por satélite. Aí o objetivo é estudar aspectos sobre a floresta que não podem ser medidas, por exemplo, a fragmentação, a degradação”.
Apesar de ter como prazo inicial o ano de 2016, o inventário é cíclico. “Nesse ano, estaríamos terminando o Brasil inteiro. Só que a cada cinco anos, vamos revisitar estas parcelas, em um novo monitoramento. Em Santa Catarina, o segundo ciclo vai começar em 2014, já que lá o primeiro começou em 2009. Não vai parar nunca mais, estaremos sempre em algum lugar”. O Serviço Florestal Brasileiro vem promovendo acordos de cooperação com os Estados, inclusive do ponto de vista orçamentário. “Rio de Janeiro, Paraná, Ceará e Sergipe colocaram recursos para executarmos o inventário. Existe interesse de ambas as partes de ter, até pelos créditos de carbono. Há contrapartidas dos Estados. Nos municípios, não recebemos, nem transferimos recursos”.
Coletas de dados de campo são promovidas, em geral por empresas privadas, por meio de contratação direta, seguindo a linha tradicional dos editais de concorrência. “Isso vem de uma política geral do governo federal de desinflar o projeto. Foi sugerido termos uma equipe própria, mas há várias complicações. Trabalhamos então com empresas. Pode ser que no futuro consigamos criar nossas próprias equipes”, comenta Piotto.
Metodologia - Inventário colocará em prática a visão mais atual da engenharia florestal, incluindo o diálogo com as populaçõesFinanciado por recursos do Fundo Amazônia (BNDES), da FAO, do Programa de Investimentos Florestais do Banco Mundial e de outras fontes e com referências piloto no Distrito Federal e em Santa Catarina, o programa desenvolvido pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB), do Ministério do Meio Ambiente, utiliza a metodologia de pontos em 20 por 20, ou seja, cobre uma grade de 20 km por 20 km entre os pontos cardeais dos mapas de cada estado, com exceção da Amazônia, cuja escala é diferenciada.
As operações são desenvolvidas por empresas que atendem aos requisitos de um edital e que contam com o apoio logístico dado por cada estado, segundo explica o analista ambiental do SFB, eng. ftal. Alencar Garlet. “Se não tem dinheiro, tentamos mandar. Fornecemos o projeto básico, e o Estado operacionaliza. A execução é feita por termos de cooperação em cada estado, alguns a gente passa recursos, outros fazem com recursos próprios. Em todos, repassamos a metodologia. A empresa mede, manda o relatório, e depois fazemos uma auditoria por amostragem, com universidades. Criamos uma base grande de dados, em que incluímos imagens por satélite para mostrar onde está a floresta. Todo esse material servirá de planejamento para a unidade científica. A intenção é mostrar a condição da vegetação por dentro, acompanhando o que está acontecendo a cada cinco anos”.
O engenheiro florestal, que atua no estado do Rio Grande do Norte, acrescenta que cada unidade amostral de registro é coberta em dois dias por três engenheiros, mais dois auxiliares de campo (“mateiros”). Ele informa que o mapeamento já está em processo de licitação no Ceará e em Sergipe, estados onde deve ter início ainda este ano. Alencar diz que o principal obstáculo é a dificuldade de recursos, que tem afastado alguns estados em apoiar a ideia. “Eles alegam que não têm pessoal, têm outras prioridades”. Mesmo assim, ele acredita que estas barreiras já estejam sendo contornadas com um planejamento macro com as entidades.
A metodologia do Inventário Florestal Nacional é detalhada por ele. “O operador coloca as coordenadas no GPS e vai a campo. Acha a unidade amostral. Crava uma estaca, mede 50 metros em direção ao Norte, marca um retângulo de 20x50 metros. Volta para o ponto central, e repete isso em cada direção. Forma-se uma cruz com quatro parcelas de 20x50m. Nessa área, é feito um raio x da vegetação, quantas árvores têm, quais as espécies. Se a identificação não é possível, levamos algumas amostras para herbários locais ou para o Rio de Janeiro. Identificamos a altura, a saúde da árvore, se tem orquídea, bromélia. Depois, analisamos o chão, galhos secos, camadas de folha seca (necro-massa). Depois, o solo, com amostras em várias profundidades, para caracterizar o tipo de solo com dados como teor de carbono, questão mineral. Vou saber quantas várzeas existem, qual o volume de madeira e estimar o teor de carbono, dados físicos. Posteriormente, a equipe vai sondar o pessoal que está a cinco, dez quilômetros, vamos procurar quatro moradores e fazer um questionário com eles, para saber qual a relação deles com a floresta, é a questão social. Vou avaliar como é o convívio da comunidade com a vegetação”.
Engenharia florestal - Esta metodologia é totalmente diferente em relação ao inventário promovido entre os anos 70 e 80. “Não serão repetidas as mesmas estratégias daquele mapeamento. Agora, será uma nova metodologia. Vai envolver as universidades, estudantes, toda a categoria da engenharia florestal, considerando que as equipes de campo só podem ser integradas por engenheiros florestais. Na prática, este é o primeiro inventário, pois o outro foi pouco amostrado. O grande diferencial é esta estrutura do conglomerado em que o arbóreo, a vegetação são identificados junto ao aspecto humano, com as entrevistas”, comenta Luiz Elesbão.
De acordo com o engenheiro florestal gaúcho, no Rio Grande do Sul, já foi aberto um edital que contemplará inicialmente a região Noroeste do Estado. “A empresa vai fazer o trabalho de campo em 25 parcelas que serão posteriormente auditadas por amostragem pelo departamento de ciências florestais da Universidade Federal de Santa Maria. O material botânico não identificado, cascas e flores, será levado para o Rio de Janeiro“. Elesbão acredita que o levantamento seja feito em um ano e meio, a maior parte deste período dedicada ao trabalho de campo, e reforça que “o mais importante são as políticas públicas para o entorno, o que segue a linha mais moderna da engenharia florestal que não se preocupa só com o potencial madeireiro. Essa metodologia se preocupa com os usuários desta floresta”.
Até 2014, será possível conferir os relatórios de Santa Catarina, Distrito Federal, Paraná, Rio Grande do Sul, Ceará e Sergipe e, em 2016, o relatório do Brasil. Informações podem ser obtidas pelo site:  www.iff.fc.gov.br
(Equipe de Comunicação do Confea)
Fonte: Correio Braziliense
Fotos: Arquivo SFB

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