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Engenheira agrônoma gaúcha conta como foi a recuperação do gramado do Maracanã


Eng. agr. Maristela Kuhn vistoriou o gramado do Maracanã para a final da Libertadores em janeiro. Créditos: Arquivo Confea

O campo do Maracanã, no Rio de Janeiro, tem chamado atenção dos torcedores de futebol. Isso porque o gramado está no nível europeu de qualidade, ou “um tapete”, como costumam dizer no meio esportivo. O terreno, que foi criticado pelos jogadores ao longo de 2020, recebeu tratamento especial antes da final da Copa Libertadores da América, no mês passado. Graças ao trabalho da engenheira agrônoma gaúcha Maristela Kuhn, o campo pôde ser recuperado 25 dias antes do jogo. 

Engenheira agrônoma, com mestrado em Fitotécnica, na área de gramados esportivos, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Maristela é contratada da Conmebol e teve a missão de vistoriar as condições do campo para a competição entre Palmeiras e Santos, realizada no dia 30 de janeiro. Também fez inspeções nas arenas da Copa do Mundo e nos campos de grama natural da Olimpíadas (foto) realizadas no Brasil.

“O que foi feito no Maracanã foi um manejo para aumentar a densidade do gramado, reduzir a altura de corte, além de adubações bem intensas, que melhoram a coloração. Foram usadas equipes para descompactar o solo, de maneira que o solo fique todo macio, sem excesso, em toda a área dele, também parar melhorar a coloração, melhorar o tom de verde, marcar bem a faixa de cortes e marcar muito bem, com precisão, as linhas de jogo, as linhas de marcação do campo, que ajudam muito na penalização dos árbitros”, explica a especialista em sua conta na rede social. 

 

A engenheira agrônoma comenta sobre o rigor necessário para assegurar o padrão de excelência de um gramado esportivo, o que exige verificar as condições e adotar um plano de administração. A expectativa não é apenas promover resultado estético, mas também garantir a efetividade do esporte e a segurança do usuários. “A ideia é que você tenha um padrão. A Fifa [Federação Internacional de Futebol] determina um rango de altura que o campo pode estar, a gente trabalha desse limite. E os campos de treinamento, que os times estão usando essa semana [de janeiro], eles estão dentro da mesma altura de corte que foi colocada no Maracanã. A ideia é que o campo esteja mais homogêneo, que a bola se desloque melhor, sem buracos, que você tenha uma superfície melhor de jogo”.

Neste segmento, o profissional de Agronomia trabalha com as equipes dirigentes e operacionais das arenas, com quem discute questões como variedades de grama, controle fitossanitário, compactação do terreno, drenagem, irrigação, maquinário e clima.

Em entrevista exclusiva ao site do Confea, Maristela Kuhn detalha as peculiaridades do segmento de gramados esportivos e reconhece o salto de qualidade que os campos de grama natural tiveram nos últimos anos no Brasil. Ela também compartilha detalhes da trajetória de engenheira agrônoma.

Confea – Como e quando você despertou interesse profissional por gramados esportivos?
Maristela Kuhn –
Enquanto eu ainda estudava Agronomia, fui fazer estágio na Alemanha, na Universidade de Bonn. E lá eu vi algumas pessoas que trabalhavam nessa área de gramado esportivo e me interessei. Quando voltei para o Brasil, eu consegui uma bolsa para fazer mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a UFRGS. Pesquisei gramado esportivo por dois anos e meio e defendi uma tese sobre gramado esportivo. Enquanto isso, eu comecei a participar de uma associação nos Estados Unidos que realiza pesquisas e cursos, seminários e feiras e fui me especializando. Então isso foi me dando especialização. Paralelo ao mestrado, comecei a atender no Rio Grande do Sul uma das maiores lavouras de grama do Brasil e comecei a trabalhar nos times daqui, no Grêmio e o Internacional, que são muito fortes e sempre estão na série A do campeonato brasileiro. 

 

Confea – Quais as peculiaridades de um gramado esportivo? 
MK –
O gramado esportivo é muito diferente do gramado que temos no sítio ou na chácara, ou que é usado no paisagismo. São outras variedades e espécies de grama, desenvolvidas a partir de pesquisa. O sul dos Estados Unidos, principalmente a Flórida, tem um clima muito similar ao do clima brasileiro. As grandes variedades que usamos aqui são provenientes de pesquisa daquela região, onde eles investem muito em pesquisa por causa do golfe, que é um esporte muito forte por lá. E as variedades de grama que se usam no golfe, se usam também no futebol. No manejo são consideradas a rolagem de bola e a velocidade de jogo. As taxas de adubação e fertilização também são diferentes das adotadas em um gramado paisagístico. 

 

Confea – Qual a sua análise sobre o segmento de campos esportivos, em especial os dedicados ao esporte tido como a “paixão nacional”?
MK –
Os esportes com grama natural cresceram muito e o futebol tem um valor muito grande aqui no Brasil. Tivemos uma melhoria muito grande nas tecnologias a partir da abertura das importações, no início da década de 1990. Até então, era muito difícil ter equipamentos importados. Hoje a gente corta os gramados com máquinas de alta precisão que são reguladas em milímetros e temos sistemas de irrigação automatizados. Considero que houve um grande salto em qualidade naquela década, quando variedades novas e mais modernas de gramas entraram no Brasil, além dos equipamentos de corte e de irrigação. Outro salto foi entre 2010 a 2014, quando aconteceu a preparação dos estádios para a Copa de Mundo e dos 74 centros de treinamento.

 

Confea – Foram expressivas a repercussão e a visibilidade do trabalho realizado por você na recuperação do gramado do Maracanã, às vésperas da final da Libertadores, em janeiro passado. Fale da sua realização profissional nesse rigoroso projeto de Agronomia que envolveu avaliação, tecnologia e métodos técnico-científicos.
MK –
Fui contratada pelo Comitê Organizador da Copa do Mundo e trabalhei com eles e diretamente com a Fifa durante quatro anos. Fui responsável por fiscalizar os 12 estádios que sediaram a Copa e os 74 centros de treinamento utilizados em cada cidade-sede e que foram base de cada um dos times dos países que vieram para o Brasil. Considero que nós, falando em futebol, hoje temos campos equiparados em qualidade a qualquer campo das grandes arenas do mundo porque passamos por uma grande remodelação para sediar o mundial de 2014. Também trabalhei nos jogos Olímpicos no Rio em 2016, sendo responsável por todos os preparos dos esportes com grama, como rugby e futebol. Foi um trabalho bem grande durante dois anos. Além disso, presto serviço para Conmebol [Copa Libertadores da América organizada pela Confederação Sul-Americana de Futebol], assim como para a CBF [Confederação Brasileira de Futebol]. No caso da Conmebol, há dois anos existe um novo projeto, que são as finais únicas da Libertadores e da Sul-Americana. Ano passado a final da Libertadores foi em Lima, no Peru, e a Sul-Americana foi em Assunção, no Paraguai. Este ano a final da Sul-Americana foi em Córdoba, na Argentina; e da Libertadores, no Rio de Janeiro, no dia 30 de janeiro. É um trabalho muito bacana porque a sede é escolhida com bastante antecedência e essa sede se prepara para receber os jogos que são os mais importantes da América do Sul. O nosso trabalho é preparar os campos junto com os clubes que já operam as arenas e contribuir para elevar a qualidade para atingir um ótimo resultado com os campos já existentes porque são sempre duas equipes muito importantes que chegam à final.

Em 2011, quando Porto Alegre foi selecionada como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, a Conselho em Revista publicou a  reportagem Gramado: Palco dos Espetáculos Esportivos, com a Engenheira Agrônoma Maristela Kuh, também responsável pelo gramado da dupla Grenal. Vale a leitura em  Revista Ed. 71.

 

Julianna Curado / Equipe de Comunicação do Confea
Com informações de @maristela_kuhn e www.maristelakuhn.com.br 
 

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