Notícia

Entidades reafirmam defesa do sistema de proteção contra cheias da Capital


Créditos: Arquivo CREA-RS

Qualquer interferência que venha ser feita no sistema de proteção contra cheias que protege a cidade e sua população deve ser precedida de um projeto de engenharia que garanta a mesma eficiência verificada atualmente. Em síntese, essa é a conclusão que se chega ao final do Workshop Muro da Mauá: os desafios da integração da cidade, evento virtual promovido pelo SENGE, IPH/UFRGS e Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba, realizado nesta quarta-feira (14).
Para convocar diversas entidades e profissionais da engenharia gaúcha para numa carta compromisso oferecer ao Poder Público e à sociedade argumentos técnicos para enfrentar a intenção do prefeito Sebastião Melo de simplesmente derrubar o muro, os organizadores prepararam uma programação de peso, diante da gravidade e da vulnerabilidade que a remoção da estrutura de concreto com mais de 2,6 km no Centro Histórico da Capital traria à coletividade.
Nesse sentido, o workshop apresentou dois importantes painéis.
O primeiro, conduzido pelo diretor do Instituto de Pesquisas Hidrográficas da UFRGS, professor Joel Goldenfum, tratando da importância da manutenção do sistema de proteção contra inundações da Região Metropolitana de Porto Alegre. O segundo, apresentado pelo arquiteto Oscar Escher, expôs o tema da integração do Cais Mauá com o aspecto paisagístico da cidade sem prejuízo do grau de proteção contra cheias.
 
O sistema de proteção
Porto Alegre conta com um eficiente sistema de proteção contra cheias com 68 quilômetros de extensão, que inicia na divisa com o município de Cachoeirinha, segue pela BR 290 (Freeway), Avenida Castelo Branco (ex-Legalidade), Avenida Mauá, Avenida Edvaldo Pereira Paiva, Beira-rio e Diário de Notícias, além de toda a extensão da Avenida Ipiranga. De todo esse complexo sistema, o Muro da Mauá e seus 2,6 quilômetros é apenas uma parte, talvez a mais importante, e com certeza a mais polêmica.
Planos para a instalação de um sistema de proteção contra as cheias começaram e se tornar realidade após a histórica enchente de 1941. Segundo o professor Goldenfum, entre os dias 10 de abril e 15 de maio daquele ano, Porto Alegre recebeu incríveis 790 milímetros de chuva. A situação foi ainda agravada por volumes semelhantes, e até mesmo maiores, verificados em outras regiões do Estado, canalizados para o Guaíba, além da constância do vento sul que provocou o represamento natural do lago, que alcançou a cota recorde de 4,75 metros. A cheia gerou mais de 70 mil flagelados numa população de 272 mil habitantes. Paralisou 600 indústrias, atingiu 50 mil residências e provocou a necessidade de aplicação de 55,2 mil vacinas contra tifo.
O professor apresentou também gráficos que indicam o extravasamento das águas do Guaíba em outras oportunidades, considerando os 3,00 metros da cota do cais do Porto: 1928 (3,20m), 1967 (3,13m) e 2015 (2,94m).
 
Embora o risco permanente de novas inundações como a de 1941, o sistema atual só foi instalado no final dos anos 60, demonstrando em diversas oportunidades a eficiência dos seus 68 km de diques (internos e externos), 14 comportas e 20 estações de bombeamento (86 bombas com capacidade de bombear 170.000 litros de águas pluviais por segundo). 
Goldenfum apresentou estudo de 2015 no qual a engenheira Valéria Borges Vaz, na sua tese de mestrado, afirmou que, sem um sistema eficaz de proteção, uma inundação que atinja uma cota entre 3,10m e 3,20m trará sérias consequências aos bairros Centro Histórico, Floresta, Humaitá, Praia de Belas e São Geraldo, com prejuízos calculados em R$ 11,5 bilhões. (Fonte - Avaliação do custo do risco de inundações urbanas : estudo de caso dos danos de inundação em Porto Alegre - RS. 2015. Dissertação - Mestrado em Programa de Pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.)
Na sequência do workshop, coube ao arquiteto Oscar Escher tratar especificamente do Muro da Mauá e os desafios da integração da cidade. Na sua apresentação foram expostos diversos projetos voltados à integração do cais ao Centro Histórico.
 
Escher coloca que a discussão sobre o Muro do Cais Mauá é recorrente seja pela retirada do Muro, seja pela sua manutenção. Através de concursos nos anos 90 foram ilustradas as duas vertentes. A proposta coordenada pelo arquiteto Alberto Adomilli defendia a substituição do muro por um sistema de placas de concreto que poderiam ser erguidas. Já a proposta vencedora do concurso de 1994, produzida pelos arquitetos Paulo Roberto Almeida e Eliane Sommer, discutia a intervenção sem a retirada do muro através de passarelas-mirante que cruzariam a Avenida Mauá e passariam sobre o Muro.
Destacando oito pontos de potencial integração posicionados da altura da Estação Rodoviária até o Gasômetro e ilustrando com diversas soluções apresentadas por profissionais ao longo dos anos, Oscar Escher apresentou imagens de um trabalho acadêmico realizado na UFRGS em 2016, na cadeira de Urbanismo 4, pelos arquitetos Juliana Souza, Luísa Dias, Marla Trabach e Matheus Schmidt, sob orientação dos professores Gilberto Cabral, Heleniza Campos e Inês Martina Lersch.
 
 
 

Os slides da apresentação do professor Joel Goldenfum e do arquiteto Oscar Escher estão acessíveis por aqui. O vídeo com a íntegra do workshop está disponibilizado na TV SENGE no Youtube.
 
Manifestações e Carta Aberta
Após os painéis foi aberta uma mesa redonda com a participação e manifestação de diversas entidades e profissionais que convergiram para a ideia central de preservação do atual sistema de proteção até que um eventual projeto de alteração seja devidamente apresentado, analisado, erguido e concluído.
Sucederam-se em suas manifestações:
A presidente da ABES-RS, Jussara Kalil Pires;
O representante da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, André Luiz Lopes da Silveira;
A presidente do CREA-RS, Nanci Walter;
O representante do Departamento de Gestão de Recursos Hídricos da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do RS, Diego Carrillo;
O presidente da Sociedade de Engenharia do RS, Luís Roberto Ponte;
O presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba, Valery Pugatch;
O presidente do Sindicato dos Engenheiros, Cezar Henrique Ferreira;
Os painelistas Joel Goldenfum e Oscar Escher;
O vice-diretor do IPH/UFRGS, professor Alfonso Risso;
O vice-presidente do SENGE-RS, José Luiz Azambuja.
Coube à bióloga Ana Elizabeth Carara a leitura da Carta Aberta, que no final do encontro foi aprovada sem restrições por todos os participantes.
 
CARTA ABERTA
MURO DA MAUÁ: OS DESAFIOS DA INTEGRAÇÃO COM A CIDADE
Reunidas no Workshop Muro da Mauá: Os Desafios da Integração com a Cidade, realizado de maneira virtual na data de 14 de abril de 2021, as Entidades a seguir elencadas vêm se manifestar e conclamar às autoridades o que segue.
O Sistema de Proteção contra Inundações da Região Metropolitana de Porto Alegre constitui-se de um conjunto de diques, estações de bombeamento e muro de contenção.  Situa-se em torno da capital gaúcha, em uma extensão de aproximadamente 68 quilômetros, desde o limite com o município de Cachoeirinha, estendendo-se pela BR-290 (Freeway), Avenida Castelo Branco, Avenida Mauá, Avenida Edivaldo Pereira Paiva (Beira Rio) e avenida Diário de Notícias.  Compõem também internamente o Sistema as Avenidas Dique e Ipiranga.
Destina-se a proteger Porto Alegre de inundações, evitando que se repitam, por exemplo, inundações como as das cheias ocorridas em 1967 e em 1941 (quando boa parte da cidade ficou abaixo da linha d’água, ocasionando óbitos e altíssimos prejuízos sanitários e financeiros). Destaca-se que as características que proporcionaram as cheias de 1941 e de 1967 ainda estão presentes, sendo possível que eventos de ordem de grandeza semelhante venham a se repetir.
Os elementos que compõem o Sistema atuam de forma simultânea, de maneira que a supressão de qualquer um deles colocaria em risco a funcionalidade do conjunto inteiro.    O Muro da Avenida Mauá faz a ligação entre o dique constituído pela avenida Castelo Branco e o dique constituído pelas avenidas Presidente João Goulart e Edvaldo Pereira Paiva, e tem comprimento de aproximadamente 2,6 Km.  É a única porção do Sistema, de um total de 68 Km, constituída de Muro de concreto.
A proteção contra Inundações oferecida pela porção do Sistema Metropolitano representado pelo Muro da Mauá poderá ser substituída eventualmente por Estruturas Alternativas, desde que permaneçam proporcionando grau de eficiência igual ou superior.  O aspecto paisagístico - altamente significativo - merece ser considerado em qualquer tomada de decisão.   Da mesma forma que a implantação da Orla Moacyr Scliar devolveu um acesso qualificado para a população junto às margens do Guaíba.
Outro aspecto importante a ser considerado é a integração do Cais Mauá com a população.  Esse aproveitamento é sem dúvida afetado pela existência da contenção, mas independe desta.  Deve necessariamente ser ressaltado que, dos 2.600 metros de comprimento do muro, temos mais da metade   - 1.600 metros - ocupados pela presença da via férrea do Trensurb, impedindo de forma definitiva a visualização e o livre acesso ao cais e aos armazéns.
Diante do exposto, é imprescindível a manutenção e preservação do grau de segurança e eficiência do Sistema de Proteção contra Inundações da Região Metropolitana de Porto Alegre, visto que a supressão – mesmo que parcial - ou redução de sua altura, tornaria a Região Metropolitana altamente vulnerável às imprevisíveis cheias e suas nefastas consequências, com prejuízos de complexa mensuração.
Porto Alegre, 14 de abril de 2021.
 
SINDICATO DOS ENGENHEIROS DO RS
IPH/UFRGS
COMITÊ DE GERENCIAMENTO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO LAGO GUAÍBA
 
 

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