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CREA-RS Entrevista: Andressa Ojeda, primeira brasileira a fazer curso de astronautas nos Estados Unidos


Créditos: Arquivo CREA-RS

A distância entre as estrelas e Andressa Ojeda nunca foi tão grande. Com 11 anos, pediu para o pai comprar livros de Física Teórica e Quântica. O fascínio pelo Universo a acompanhou desde muito nova, mas foi no Ensino Médio que descobriu qual área realmente gostaria de seguir: Engenharia Aeroespacial.

Ainda na escola, foi aprovada em cinco universidades do Estados Unidos para o curso desejado e escolheu a Embry-Riddle Aeronautical University, a mais antiga universidade voltada para aviação do mundo e o maior sistema universitário credenciado especializado em Aviação, Aeronáutica e Aeroespacial. Hoje, ela mora na Flórida e é a primeira mulher brasileira a fazer um curso avançado para astronautas nos Estados Unidos.

O CREA-RS Entrevista de hoje conversou com a estudante que é inspiração para todas as brasileiras e brasileiros. Confira!

 

CREA-RS: Como o sonho de ser astronauta entrou na tua vida?

Andressa Ojeda Sempre fui uma criança muito curiosa e fascinada pelo universo, gostava muito de aprender sobre astronomia e tentar entender um pouco mais sobre como tudo funciona. Minha mãe faleceu quando eu tinha 9 anos de idade e as pessoas sempre me falavam que, quando alguma pessoa falece, ela vira uma estrela. Eu fiquei com isso na cabeça e ficava encarando o céu em noites estreladas para poder sentir a presença dela comigo. Isso não só me fez querer estar perto dela, mas também aumentou muito a minha curiosidade sobre entender o universo.

Comecei a ler livros de física teórica e quântica aos 11 anos de idade (depois de insistir muito, porque meu pai achava que era só uma fase e não queria gastar com livros que eu "não entenderia"). Na época, dizia que queria fazer faculdade de física, mas com o passar dos anos fui me apaixonando por exploração espacial e foguetes. Pensava comigo mesma que queria me tornar astronauta, mas tinha um certo receio de falar para outras pessoas por medo do que elas pensariam. 

Fui ter um pouco de experiência na área no terceiro ano do ensino médio, através do intercâmbio que fiz pelo Rotary Club, em que fiz um estágio com um mentor que era graduado em astrofísica na Universidade de Harvard e aprendi muito sobre foguetes de alta-propulsão e CubeSats (satélites miniatura). Lá, também montei e lancei meus próprios modelos de foguete. Foi a primeira vez em que eu havia "colocado a mão na massa" e entendido realmente do que a Engenharia Aeroespacial se tratava, e também foi quando tive a certeza de que era isso que queria. 

Também participei de competições regionais e estaduais de robótica, fiz aulas de astronomia e programação, fui aceita para fazer a Advanced Space Academy da NASA, onde fiz simulações de exercícios para treinamento de astronautas (incluindo mergulho com montagem de estruturas embaixo d'água, montagem de modelos de foguete e simulações de longa duração à Marte), fui chamada para uma entrevista em rede nacional americana e conheci o astronauta Buzz Aldrin (segundo homem a pisar na lua) e o Vice-Presidente dos EUA, Mike Pence. 

Depois dessa experiência, tive coragem de falar para todos que queria ser astronauta. Foi muito inesperado e interessante o apoio que recebi não só da minha família, mas também de engenheiros da NASA e da SpaceX. Decidi acreditar em mim mesma e aplicar para universidades nos EUA. Ao final do terceiro ano do ensino médio, eu havia sido aceita em 5 universidades americanas para cursar Engenharia Aeroespacial. Optei pela Embry-Riddle Aeronautical University, onde 11 astronautas se graduaram. 

Aos 18 anos, participei de pesquisas de iniciação científica em minha universidade, fui a primeira mulher brasileira a ser aceita para fazer o Advanced PoSSUM Academy, onde fiz um voo acrobático de alta força de gravidade, simulações em trajes espaciais, e treinamento de altitude elevada em um laboratório de altitude hiperbárica, entre outros. Também ganhei um voo de pesquisa em microgravidade (gravidade zero) pela Zero Gravity Coorporation (Zero-G) ao lado de pesquisadores da NASA e da Agência Espacial Japonesa (JAXA), e fui convidada por um gerente de missão da SpaceX para um tour na sede da SpaceX com aprovação direta de Elon Musk. 

Atualmente, faço parte de vários clubes ligados à propulsão e foguetes de alta-potência, sou membro da competição Robotics Mining Competition da NASA, onde trabalho desenvolvendo um robô autônomo para mineração lunar e também sou Astronauta Análoga pela Habitat Marte em parceria com a Agência Espacial Brasileira. Tudo isso contribui para chegar mais perto de meu sonho a cada dia que passa.

 

CREA-RS – Há mais mulheres estudando com você? O que você acha que falta para as mulheres estarem mais presentes em áreas como tecnologia, matemática, engenharia…?

Andressa Ojeda – Estudo em uma universidade onde a maior parte dos estudantes são homens, com muita frequência eu sou a única mulher nas salas de aula e projetos que participo, às vezes temos mais de 20 meninos nas reuniões e só eu de mulher. No começo era complicado porque, às vezes, eu fazia cálculos e eles mesmos refaziam pra ver se eu havia feito certo. Após um tempo eu consegui provar pra eles que era tão boa quanto eles e que eles não precisavam verificar cada coisa que eu fazia. 

Cada vez mais se vê um movimento convidando mulheres para a área de STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia, e Matemática). Hoje, o nosso mundo depende muito de pesquisas científicas e novas tecnologias. Nós, mulheres, temos muitos talentos que podem contribuir para o avanço destas áreas. Atualmente, estima-se que a participação feminina nessas áreas é de apenas 30%. A área de Engenharia é fascinante, muitos desafios e experiências gratificantes. Eu aconselho as pessoas e, principalmente, as mulheres a conhecerem melhor essas áreas.

 

CREA-RS – O que é preciso para ser uma astronauta e o que falta para você realizar esse sonho?

Andressa Ojeda: Depende muito de para qual agência espacial eu vou. Se for pela NASA, ainda falta terminar a universidade, fazer mestrado, me tornar cidadã americana e ter 2 anos de experiência na indústria nessa área. Voos para o espaço através de empresas privadas estão cada vez mais comuns, então outras oportunidades podem aparecer com requerimentos diferentes que podem aumentar as possibilidades de alcançar meu sonho.

CREA-RS – Quando decidiu realmente seguir os estudos para ser astronauta, você sabia que seria a primeira mulher brasileira a fazer um curso avançado para astronautas nos Estados Unidos?

Andressa Ojeda – Não fazia ideia de que seria a primeira brasileira, mas sempre soube que não há muitas mulheres que atuam nessa área. Fiquei muito feliz quando me informaram sobre isso. Senti muito orgulho, pois o meu traje de voo tinha a bandeira do Brasil e senti que pude representar meu país através disso.

 

CREA-RS – Hoje, você estuda para ser astronauta, isso? Como funciona este curso?

Andressa Ojeda – Sou estudante de Engenharia Aeroespacial na Embry-Riddle Aeronautical University, a mais antiga universidade voltada para aviação do mundo e o maior sistema universitário credenciado especializado em Aviação, Aeronáutica e Aeroespacial. A minha área de concentração do curso é Astronáutica, que envolve foguetes, satélites ou qualquer outra máquina projetada para operar fora da atmosfera terrestre. Essa área concentra-se em mecânica orbital, controles de espaçonaves, propulsão de foguetes e análise estrutural. Os alunos têm oportunidades frequentes de participar de competições nacionais e projetos de design/construção/teste. É um programa renomado com foco principalmente na engenharia de veículos voltados para missões, com cursos de aeronáutica, projetos de design, estruturas e propulsão de aviões e veículos espaciais. O curso leva em torno de 4 a 5 anos e os alunos ganham experiência prática desde o início, com oportunidades de participar de vários projetos e competições. Fora a universidade, já fiz simulações na NASA para treinamento de astronautas e treinamento para voos suborbitais na Advanced PoSSUM Academy.

 

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