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CREA-RS Entrevista: Danilo José Savariz, Eng. Mecânico que se formou em Agronomia aos 73 anos


Créditos: Arquivo CREA-RS

Danilo José Savariz entendeu cedo que apenas a educação mudaria a sua vida, a de seus pais agricultores e a de seus irmãos, que moravam na pequena cidade de Catuípe e viviam com muitas dificuldades financeiras. Ainda criança, começou a se interessar por tecnologias e não teve como fugir da Engenharia. Iniciou na academia cursando Engenharia Mecânica.

Concluiu o curso, trabalhou na área e foi, inclusive, professor universitário. Mas sua vocação que ainda remetia aos tempos de infância era muito presente e, aos 73 anos, Danilo Savariz tornou-se Engenheiro Agrônomo, formado pela Universidade de Passo Fundo (UPF) em 17 de junho deste ano. O CREA-RS Entrevista de hoje conversou com o Eng. Danilo para conhecer sua história e a importância da educação em sua vida. Confira!

 

Danilo José Savariz, na formatura como Engenheiro Agrônomo

CREA-RS: Quando você decidiu cursar Agronomia? Já era um desejo da época em que cursava Engenharia Mecânica ou é algo recente?

Eng. Danilo José Savariz – Sou o filho mais velho de 9 irmãos. Nossos pais eram pequenos agricultores em Catuípe, onde começou a cultura da soja, na década de 50-60. Por não existir assistência técnica, nem aptidão dos produtores, a maioria deles entrou em falência. Muitos migraram para as cidades e, poucos, os mais aptos, ficaram nas terras. A região toda, hoje, tem os menores PIB per capita do estado, com poucas indústrias. Então, na época, eu parti para a indústria. 

Por meio de um rádio de pilha, descobri que a tecnologia industrial no mundo era fantástica. Escutava as rádios Voz da América em Washington (DC), BBC de Londres e Deutsche Welle (DW) da Alemanha, sendo que os lançamentos das naves espaciais Apollo eram os mais apreciados. Escrevi para eles e me enviaram uma carta, panfletos e revista. Era um menino maravilhado com a tecnologia espacial e assuntos que o rádio transmitia. Eu ficava até de madrugada ouvindo o rádio.

Danilo com os colegas do curso de Agronomia | Foto: arquivo pessoal

 

CREA-RS – Como foi sua trajetória profissional na Engenharia Mecânica? 

Eng. Danilo – Com dificuldades financeiras extremas, parti para estudar Mecânica. Estudei Ginásio Industrial de Mecânica Geral na Escola Industrial 25 de Julho de Ijuí e Técnico de Construção de Máquinas e Motores na Escola Técnica Parobé em Porto Alegre. Fui contemplado com uma bolsa de estudos, por seleção entre os formandos de 1969, oferecida pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Entrei na CEEE, trabalhei por 10 anos em todo o estado em Usinas Diesel Elétricas e Hidrelétricas. Cursei Engenharia Mecânica na Universidade de Passo Fundo (UPF) e trabalhei mais 25 anos como Engenheiro Mecânico. São 42 anos trabalhando e estudando Mecânica, 35 na CEEE. Também fui professor de Motores de Combustão Interna e Manutenção Industrial no Curso de Engenharia Mecânica da UPF por 22 anos.

CREA-RS – O que a educação representa na sua vida?

Eng. Danilo – A educação representa tudo na minha vida. Na agricultura certamente eu não teria chances, naquela época da infância. Eu estudei desde o início com muitas dificuldades devido à pobreza extrema. A vontade de estudar era imensa. Estudei em escolas públicas sempre auxiliado. Em Ijuí, ganhava comida na escola e no Parobé também, parava na casa do estudante técnico em Porto Alegre. Não desisti, não tinha outra chance na vida. Antigamente era bem difícil estudar, muitos desistiam. 

A educação é tão importante para mim, visto que resgatei a minha família de Catuípe para a zona rural de Erechim. Após, dei estudos para os meus irmãos em Passo Fundo, durante 8 anos, primeiro e segundo graus. Assisti meus pais por muitos anos. Ganhei recursos da nação e ajudei a nação, visto que sempre ajudei toda a família e muitas outras pessoas. Sempre fui muito solidário e honesto. Casei tarde, aos 36 anos, com minha esposa Sônia Maria Savariz, Enfermeira, pois antes eu estava comprometido com o sustento da família. Tenho uma filha, Daniela Savariz, Arquiteta. Elas sempre me incentivaram e ajudaram para a formação em Agronomia.

Danilo no curso de Agronomia | Foto: arquivo pessoal

CREA-RS – O que mudou do estudante de Engenharia Mecânica para o estudante de Agronomia?

Eng. Danilo – O desejo de ser Agrônomo iniciou já em 1979, visto que cursei um ano e meio e tranquei o curso. Como eu tinha, com meus pais, uma área de terras em Erechim/Áurea, resolvi voltar a estudar aos 68 anos, parei um ano, voltei, e, aos 73 anos, me formei. O desejo sempre existiu, visto que conheci o campo e a mata na propriedade em Catuípe, situada na fronteira destes biomas. A natureza sempre foi especial para mim. Conheço todos os problemas ocorridos com o meio ambiente, visto que até os 15 anos vivia na mata e no campo.

Teria muito mais a contar, mas recomendo a todos que, de uma forma ou de outra, estudem sempre, não tem idade para aprender. Tudo o que você aprende ao longo da vida vai facilitar a melhor compreensão de tudo, é um somatório fantástico. As melhores notas de todo o meu caminho ocorreram agora na Agronomia. A convivência com os alunos e professores foi excelente, aprendi com todos e também ensinei, devido a minha vasta experiência em todos os sentidos, principalmente no trato com as pessoas. 

Como estudante de Engenharia fui muito bem, por ter muita experiência. Não existiam computadores, internet, mas já havia calculadoras científicas. Hoje existem muitas facilidades, com toda a tecnologia. Hoje não estuda quem não quer, há muitos financiamentos, muitas facilidades, temos tudo, basta ter vontade. Na Agronomia, estudei com muita facilidade e posso informar que fui um dos melhores alunos, com médias muito altas.

 

CREA-RS – Agora formado em Agronomia e em Engenharia Mecânica, quais são seus planos?

Eng. Danilo – Atualmente, tenho planos de desenvolver cientificamente a cultura da erva mate. Toda a área será em consórcio silvicultural, com espécies diversas. Faz mais de 40 anos que tenho ervais. Existem muitos estudos sobre erva mate, mas não são aplicados pelos produtores. Enquanto não houver inovação no setor, não existe possibilidade de aumentar a produtividade com sustentabilidade. Onde a terra é plana, mecanizável, como no Alto Uruguai, não há possibilidade de competir com a produção de grãos ou cereais. A profissionalização do setor é primordial. Estado, empresas e produtores devem se associar nesta empreitada para alavancar o setor. 

Pretendo contar toda a minha trajetória em livro, será incrível, visto que é fantástico o que ocorreu. Existem milhares de fatos que quero contar e as pessoas vão ver que todos podem vencer, mas tem que ter vontade, resiliência, atitudes, caráter e outros atributos, pois as pessoas que têm poder verão e certamente vão te ajudar. Sozinho você não vence. Eu recebi ajuda de todo o lado, visto que tinha enorme credibilidade. E olha que penso até cursar um doutorado, mas por enquanto vou fazer experimentos em minha propriedade com Universidades, Empresas Estatais e Privadas. Já estamos em vários grupos de discussões e ou estudos.

 

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