Notícia

Tema sobre Inovação nas observações da bacia Amazônica premia pesquisadora do IPH


Eng. Amb. Alice Fassoni e seu orientador Eng. Civ. Rodrigo Paiva. Créditos: Arquivo Pessoal

Os olhos do mundo estão cada vez mais voltados para o chamado “grande pulmão”. Maior fiscalização e o aumento do desmatamento são temas corriqueiros em eventos internacionais quando o assunto é meio ambiente. O mundo está interligado e as mudanças climáticas mostram o quanto este argumento pode ser real.

A Floresta Amazônica é banhada por um sistema vasto de rios de planície e possui uma biodiversidade interna que segue maravilhando pesquisadores. Foi este amálgama natural que atraiu a Eng. Amb. Alice Fassoni. Formada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), mestre em sensoriamento remoto pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental no Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH/UFRGS), a Eng. Alice recebeu o Grande Prêmio Capes de Tese, na área de Colégio de Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar - Ciências Exatas e da Terra, Engenharias e Multidisciplinar (Biotecnologia, Ciências Ambientais, Ensino, Interdisciplinar e Materiais).

O prêmio foi um resultado da sua tese “Mapeamento e caracterização do sistema rio-planície da Amazônia Central via sensoriamento remoto e modelagem hidráulica”, orientado pelo professor e Eng. Civ. Rodrigo Paiva. A tese teve como objetivo desenvolver novas técnicas de sensoriamento remoto e modelagem para mapear, compreender e caracterizar a dinâmica de sedimentos, a topografia e a hidrodinâmica do sistema rio-planície da Amazônia Central.

O CREA-RS Entrevista conversou com a Eng. Amb. Alice, que nos conta como foi essa jornada e se existe a possibilidade da aplicação do método da pesquisa em solo gaúcho. Acompanhe!

Qual é a sensação de receber o prêmio e depois ser selecionada entre os três vencedores para o Grande Prêmio?

Fiquei muito feliz quando fui comunicada sobre o prêmio de melhor tese na área de Engenharia I. De imediato me veio à mente a trajetória acadêmica. Quando recebi a ligação da Capes comunicando sobre o Grande Prêmio de tese eu demorei alguns instantes para acreditar. Foi uma alegria muito grande! Eu me sinto honrada em receber esse prêmio.

Qual é a importância da Engenharia Ambiental em trabalhos como este?

O Engenheiro Ambiental tem um currículo multidisciplinar e isso possibilita a busca por respostas para problemas ambientais diversos. Acredito que essas características foram fundamentais na construção da minha pesquisa. Utilizei o sensoriamento remoto e a modelagem hidrodinâmica como ferramentas-chave e apliquei conhecimentos de hidrologia, hidráulica, ecologia e geomorfologia para entender os processos envolvidos.

Como foi o processo para o tema de sua tese?

O tema da minha tese que pensava no início do doutorado acabou sendo diferente do tema que abordamos na pesquisa. Meu orientador, Prof. Rodrigo Paiva (UFRGS/IPH), sugeriu iniciar a pesquisa com um tema que eu havia abordado no mestrado. Enquanto estava fazendo o primeiro artigo com esse tema, eu tive a oportunidade de aprender modelagem hidrodinâmica nas disciplinas do curso, o que acabou resultando em um novo tema para a tese. A batimetria, no entanto, que é um dado de entrada fundamental para a modelagem, não era de boa qualidade. Era possível usar esse único dado disponível, mas resolvemos investir tempo para melhorá-la e conseguimos criar um método inovador para estimar a batimetria de áreas periodicamente inundadas por sensoriamento remoto. Já quase no final do meu prazo para terminar a tese, nós fizemos a modelagem de um trecho do Rio Amazonas para entender a troca de água entre o rio e a planície de inundação. Olhando em retrospectiva, vejo que o tema foi flexibilizado, mas sem perder o foco.

Para conseguir realizar sua pesquisa, você desenvolveu técnicas inovadoras de observação e mapeamento. Qual foi o principal resultado?

Nosso estudo gerou muitos resultados em diferentes aplicações, o que torna difícil elencar um como o principal. Mas é possível destacar que conseguimos avançar no entendimento dos fluxos de água e sedimentos entre os rios e as planícies de inundação da Amazônia. Além disso, pela primeira vez foi possível mapear e entender a variação espaço-temporal da concentração de sedimentos nos rios e lagos da Amazônia central (Figura 1), caracterizar a topografia dos lagos da planície de inundação com resolução de 30 m (Figura 2) e quantificar os fluxos de água que o rio e a planície trocam. Esses resultados podem ser aplicados em outras áreas do conhecimento, como climatologia, ecologia e geomorfologia. As técnicas de sensoriamento remoto desenvolvidas também podem ser aplicadas em outras regiões.



FIGURA 1

 


FIGURA 2

 

Como você avalia a atual preservação da Amazônia? A sua pesquisa pode contribuir com a questão do desmatamento, por exemplo?

A preservação da Amazônia é urgente devido às grandes pressões recentes, como o aumento do desmatamento, da mineração e das barragens. Acredito que ainda podemos aprender muito sobre os efeitos dessas pressões no ciclo hidrológico da bacia e na ecologia, e então melhorar as ações de preservação. Dessa forma, a minha pesquisa contribui no sentido de entender o funcionamento do sistema. Por exemplo, o padrão da concentração de sedimentos que mapeamos na Figura 1 provavelmente está mudando com a retenção de sedimentos nas barragens do rio Madeira e o aumento da concentração de sedimentos devido ao garimpo na bacia do Tapajós. Nossos dados podem ser utilizados para entender essas relações e as implicações.

Existe um plano de continuação da sua pesquisa?

Tem bastante coisa que pode ser feita daqui para frente e eu gostaria de continuar sim, mas agora com uma rede maior de cooperação de alunos, professores e pesquisadores para ampliar as possibilidades de análises com novas abordagens. Podemos, por exemplo, avaliar tendências nas séries temporais da concentração de sedimentos, fazer a modelagem hidrossedimentológica no Rio Amazonas, testar novos dados e abordagens para estimar a batimetria, entender as limitações das curvas chaves do Rio Amazonas, e por aí vai… O melhor da ciência é que a pesquisa pode continuar através de outros pesquisadores.
 
Há previsão de algum tipo de estudo ou aplicação destes métodos de mapeamento dentro do Rio Grande do Sul?

Por enquanto ainda não. O curioso é que o método para caracterizar a variação espaço temporal de sedimentos nos rios e lagos da na Amazônia foi pensado e aplicado inicialmente para a Lagoa dos Patos durante o meu mestrado. Ambos sistemas são grandes e fáceis de serem observados com imagens de satélites, mas os Rios da Amazônia possuem características contrastantes de água escura (Rio Negro), clara (Rio Tapajós) e alta concentração de sedimentos (Rio Madeira). Então nós ficamos curiosos em ver esse mapeamento na Amazônia e não continuamos a pesquisa com a Lagoa dos Patos.

Prêmio Capes de Tese
A iniciativa reconhece as melhores teses de doutorado em cada uma das áreas do conhecimento, que levam à seleção do Grande Prêmio. Este é oferecido a um trabalho de destaque nas grandes áreas de Ciências da Vida, Humanidades e Exatas. Entre os critérios de escolha estão a originalidade, o caráter inovador da pesquisa e sua relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social. Os prêmios vão desde o apoio à participação em eventos científicos, a bolsas de estudo internacionais.

Outras Notícias

COLUNA SEMANAL

A Coluna Semanal é o newsletter encaminhado todas as sextas-feiras aos profissionais, empresários, estudantes e interessados nos temas da área tecnológica. Colunas Anteriores

FIQUE POR DENTRO DE TODAS AS NOVIDADES AGORA MESMO: