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Carbono zero é tema de painel voltado à Engenharia Civil na 77ª Soea


Cláudio Oliveira foi um dos engenheiros civis convidados para o painel que abordou a redução da emissão de carbono. Créditos: Arquivo Confea

Compondo a grade de atividades deste primeiro dia da 77ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea), profissionais e estudantes de Engenharia Civil lotaram a Sala 2 para prestigiar o painel “Desafios Técnicos para uma Construção Civil de Baixo Carbono e Alta Produtividade no Brasil”, mediado pelo vice-presidente do Confea, eng. civ. João Carlos Pimenta.

Com a proposta de abranger o cenário sustentável da indústria, o foco na redução da emissão de carbono na construção civil acabou abraçando assuntos correlatos que também causam impactos não só no mercado, mas também na sociedade e nos profissionais.

Descarbonização do cimento
Primeiro convidado do painel, subiu ao palco o gerente da area de Inovação e Sustentabilidade da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), eng. civ. Cláudio Oliveira da Silva, que logo tratou de apresentar o panorama econômico atual da indústria no Brasil. “Temos uma diversidade muito grande no setor de cimento, com 21 grupos industriais entregando cerca de 91 fábricas ativas, que embora passe por um momento ruim, ainda assim é de grande importância”, explicou.

“O cimento está na vida do Brasil e hoje atuamos em diversos segmentos com os mais variados desafios. Cada segmento tem uma demanda diferente de mercado, e os desafios da entrega do baixo carbono é específico para cada uma delas.

A descarbonização se tornou um tema central da governança climática global, mas de acordo com o Banco de Dados Internacional, o Brasil hoje é uma referência mundial de menor emissão de CO2 por produção de cimento, sendo 564 quilos contra a média mundial de 633 quilos. Porém, a média mundial ainda é alta, e medidas precisaram ser tomadas.
“Nesse cenário, foi criado o GCCA – uma comunidade global de cimento que está buscando zerar a produção de CO2 na fabricação de cimento. Como fazer isso? Capturar o gás no momento da fabricação. Ainda é muito caro, mas dá pra fazer”, explicou Cláudio.

“Isso acarretará numa maior precificação do cimento, que hoje é um produto barato, mas que se tornará mais nobre e que precisará de uma mudança da cultura de seu uso. Precisaremos de uma Engenharia mais precisa para aumentar a eficiência do cimento, e consequentemente diminuir o seu uso.”

Engenheiro civil Cláudio Oliveira discursou sobre os desafios no equilíbrio entre o mercado e o meio ambiente

Sistemas construtivos
Cláudio indicou que, neste momento, o tom é de mudança de práticas para o encontro de novas soluções. “Nessa necessidade, o caminho não é mais ficar comparando materiais, mas sim equalizar os sistemas construtivos em busca dos melhores números e, assim, das melhores soluções.”

“Na indústria de fabricação de bloco de concreto, por exemplo, o Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção (Sidac) indica uma grande dispersão das formas de uso e fabricação do material, o que provoca grandes impactos no desperdício e na degradação ambiental.”

Ele sugere que apontar para o futuro é o método mais eficiente de planejamento e adequação aos problemas mercadológicos. “Nosso papel é saber como a Engenharia tá evoluindo e entregar o que a indústria realmente precisa. Nós estamos atentos a como o sistema construtivo será de fato competitivo”, destacou.

Indústria 4.0
Na sequência, o vice-presidente do Confea, João Pimenta, convidou ao palco o gerente regional Centro-Oeste da ABCP e conselheiro do Crea-DF, eng. civ. Fernando Crosara, para dar início a sua palestra “Planejamento e Conhecimento Técnico como Ferramentas para o Desenvolvimento da Construção Civil”, que muito deu ênfase às práticas da Indústria 4.0.

Em sua fala, Fernando sugeriu novas formas de trabalho que se adequem às novas tecnologias. “Substituição de métodos tradicionais por sistemas automatizados abrangendo temas atuais como inteligência artificial, construção industrializada, concretos de ultra alto desempenho, entre outros.”

Defendendo a alta performance, Fernando deixou uma questão para o público. “As empresas estão preparadas para isso? Otimização dos processos é o caminho para que se alie eficiência com alta produção e boa adaptação”, afirmou.

Fernando também listou alguns pontos importantes que constam como exigências do mercado sustentável. “É necessário dominar a escolha de sistemas construtivos racionalizados, fazer ampla utilização de BIM e Lean Construction, além de executar estudos de viabilidade para que sempre se busque o melhor caminho a seguir.”

Em outra lista, também expôs a contrapartida que o País pode tomar em prol de seus profissionais. “É necessário o investimento em capacitação dos técnicos dos órgãos públicos e prover estabilidade de seus empregos. Rever a grade de ensino de Engenharia nas universidades também é urgente, bem como a atualização dos laboratórios e a disponibilização de recursos para as pesquisas”, ressaltou.

Engenheiro civil Fernando Crosara abordou tópicos de alta produtividade na Indústria 4.0

ABCP
Ao longo da apresentação, Fernando também discorreu sobre algumas práticas da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), entidade da qual é diretor. “Promovemos algumas ações como programas de desenvolvimento empresarial e projetos com pavimento de concreto para ajudar o mercado. Foram mais de 5 mil quilômetros alcançados, com mais de mil organizações envolvidas em cerca de 310 cidades”, enfatizou.

A ABCP é uma entidade sem fins lucrativos, mantida voluntariamente pela indústria brasileira do cimento que, de acordo com seu site, é reconhecida nacional e internacionalmente como centro de referência em tecnologia do cimento, a entidade tem usado sua expertise para o suporte a grandes obras da Engenharia brasileira e para a transferência de tecnologia das mais diversas formas.

Além disso, a associação também tem desenvolvido alguns projetos com os Sinduscons e Creas buscando o aprimoramento de construtoras e concreteiras, e visando à melhor qualidade e durabilidade das estruturas brasileiras.

Meio ambiente
Fechando as atividades da Sala 2, na sequência foi chamado ao palco o presidente da Comissão de Maio Ambiente e Sustentabilidade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CMA/CBIC), eng. civ. Nilson Sarti.

“A CBIC é uma entidade de entidades, estando em todos os estados com o objetivo de fomentar a indústria da construção e buscar entender melhor o futuro”, iniciou Nilson. “Hoje atuamos alinhados com as ODS [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável] em temas prioritários que vão desde gestão hídrica e saneamento, até carbono zero e certificações ambientais acessíveis e funcionais”, completou.

Aproveitando o assunto, Nilson também trouxe à tona o dilema que paira sobre a descarbonização da indústria da construção. “Essa fase de transição para uma sociedade de baixo carbono é risco ou oportunidade? A sustentabilidade é a irmã siamesa da inovação tecnológica, e essa é a oportunidade que enxergamos aqui”.

Plateia da Sala 2 reuniu engenheiros e estudantes interessados em entender o novo cenário ambiental e tecnológico na construção

Nilson provou seu ponto citando o mecanismo do IPTU Verde, sistema que já está em funcionamento e que garantiu a certificação EDGE para a cidade de Salvador, na Bahia. “São ações como essa que servem de incentivos econômicos para promoção da construção sustentável”, exemplificou.

Em sua conclusão, Nilson também voltou ao foco aos engenheiros e sua necessidade de participação nos processos. “Os profissionais têm que estar completamente engajados nessa mudança também porque estamos atravessando um momento muito interessante pro nosso setor e pra nossa profissão”, disse, concluindo sua apresentação.

Reportagem: Felipe Moreno (Crea-AL)
Edição: Julianna Curado (Confea)
Equipe de Comunicação da 77ª Soea
Fotos: Marck Castro e Juliana Nogueira Fotografia/Confea

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