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O papel do Brasil para vencer as mudanças climáticas


Marcando o encerramento das palestras do auditório principal da Soea, o climatologista Carlos Nobre fez um alerta sobre as mudanças climáticas. Créditos: Fotos: Studio Feijão & Lentilha

O climatologista brasileiro Carlos Nobre, conhecido pelo trabalho no campo da ciência do clima e suas contribuições para a compreensão das causas e consequências dos eventos climáticos e renomado mundialmente, lotou o auditório Farroupilha, no Serra Park, na manhã do último dia da 78ª Soea, em Gramado (RS), nesta sexta (11/8). 
Para uma plateia composta por profissionais da engenharia, agronomia e geociências, Carlos Nobre disse que as mudanças climáticas são um desafio para todos nós e que é preciso atuar rapidamente para tentar frear as consequências desastrosas para o planeta.

“Nós passamos pela Covid, mas as mudanças climáticas são um risco maior no planeta do que foi a pandemia. É importante perceber a emergência climática que vivemos hoje e o clima de fato vem sofrendo a interferência humana”, alertou. 

sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2021 e 2022, deixou claro que os dados apresentados são um alerta vermelho para humanidade. “As mudanças climáticas recentes observadas são generalizadas, rápidas, intensificadas e sem precedentes”, diz o relatório. 

De acordo com o climatologista, um dos resultados é o calor extremo que matou na Europa 61 mil pessoas no verão do ano passado, acometendo principalmente idosos e mulheres. Na avalição dele, as estratégias utilizadas atualmente para lidar com as temperaturas altas não estão sendo eficazes. “Duas décadas de esforços na Europa para se adaptar a um mundo mais quente não estão acompanhando o ritmo do aquecimento global”, alertou.
 

Carlos Nobre
Temperaturas recordes em todo o mundo no mês de julho ressaltam a importância de tomar medidas urgentes para reverter os danos causados pelas mudanças climáticas

Recorde de calor em julho de 2023

Carlos Nobre apresentou dados que mostram que em julho deste ano houve recordes de calor. “Foi o mês mais quente do registro histórico. A diferença de 1940 para 2023, no mês de julho, foi de 1,2ºC”, disse. No caso dos oceanos, a temperatura bateu recorde. Os oceanos muito quentes evaporam muito mais água e esse vapor d’água é veículo dos extremos climáticos. Isso para mostrar o quão crítico nós chegamos”, alertou. 
 

Projeções para o futuro
O climatologista Carlos Nobre destaca novamente o IPCC sobre o desafio da humanidade. “A menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, limitar o aquecimento global a 1,5% pode ser impossível”, diz o relatório. Para atendermos o acordo de Paris e não deixar a temperatura passar de 1,5%, argumenta, há duas trajetórias. “A mais importante é zerar as emissões até meados do século e depois remover o gás carbônico da atmosfera até 10 bilhões de toneladas por ano, até o final do século. Mas o pior cenário é a temperatura passar de 4ºC, se as emissões continuarem a aumentar”.

Brasil tem papel essencial
Carlos Nobre enfatiza que nós podemos nos tornar o primeiro país a zerar as nossas emissões. Hoje, somos o quinto maior emissor, 4% das emissões globais. “Para alcançar a meta de 1,5°C é necessário redução de 50% das emissões até 2030 e zerar as emissões líquidas até meados do século e passar a segunda metade removendo uma enorme quantidade de carbono”, explica.

Entre as medidas urgentes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar os impactos das mudanças climáticas, o climatologista reforça a necessidade de transição para fontes de energia limpa e sustentável, investimentos em tecnologias de adaptação e ações para proteger os ecossistemas naturais, como florestas e oceanos, que desempenham um papel crucial na regulação do clima.

Carlos Nobre
Papel do Brasil para buscar conter os avanços das mudanças climáticas foi destacado pelo cientista



“As emissões precisam parar de crescer até 2025, não pode passar disso. Não existe espaço para novas infraestruturas baseadas em combustíveis fósseis, por isso, 99% dos cientistas climáticos são totalmente a favor de não haver a exploração de carvão, petróleo e gás natural, inclusive, é preciso reduzir até a exploração já existente”, afirma.

“Mas ainda dá tempo! É uma enorme responsabilidade de todas as gerações, não temos outro caminho para salvar o planeta”, concluiu Carlos Nobre, sendo aplaudido de pé pela plateia presente ao auditório Farroupilha. 
 

Reportagem: Anelly Medeiros (Crea-RN)
Edição: Henrique Nunes (Confea)

 

 

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