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Nobel da Paz fala da agricultura para a sustentabilidade global na 78ª Soea


Nobel da Paz e Prêmio Mundial da Alimentação em 2020, o paquistanês Rattan Lal. Créditos: Fotos: Studio Feijão e Lentilha

 

O Nobel da Paz e Prêmio Mundial da Alimentação em 2020, o paquistanês Rattan Lal expôs nesta quinta-feira (10), o tema Sequestro de Carbono – Como a agricultura brasileira pode contribuir para a sustentabilidade global, durante a 78ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea), que acontece em Gramado (RS). A explanação aconteceu no auditório principal do evento, que estava praticamente lotado em seus 2,5 mil lugares. Na plateia, engenheiros, agrônomos e geocientistas de todo o país acompanham pela primeira vez um Nobel da Paz neste evento anual.

 

 

Rattan iniciou destacando que “nunca tinha visto um evento tão grandioso e bem organizado, com tantos engenheiros reunidos debatendo importantes assuntos”. Durante a palestra, explicou o quanto o mundo pode emitir de carbono, quais são os limites; como isso pode ser produzido, sequestrado e dividido entre as nações; e todo o processo deste ciclo, mostrando os tipos de carbono e a importância de se entender a interligação entre eles para saber como controlar sua emissão.

O palestrante comenta sobre o grande impacto da concentração de carbono na atmosfera, que aumenta a cada ano devido a fatores como a combustão de fósseis, desmatamento nas florestas, erosão do solo, entre outros. “Esse carbono é absorvido pela atmosfera, pelos oceanos e pela terra, porém, hoje esse conjunto absorve no planeta somente 30% da emissão total de carbono. Então a questão é como auxiliar esse armazenamento, realizar o sequestro do carbono em maior quantidade, e a respeito disso o papel da agricultura é muito importante, especialmente no Brasil”, declara Lal.

Ele explica que o foco das pesquisas de engenharia deve ser a gestão do carbono no solo, como mudar a situação atual e como isso pode ajudar no sequestro. Um ponto fundamental é a saúde do solo, “que é uma entidade viva e por muito tempo teve sua saúde ignorada. Pensando nisso, o futuro da agricultura no mundo não será mais baseado na quantidade, mas na qualidade dos alimentos produzidos”, define.

O que torna tão importante o solo para a humanidade é que 25% da biodiversidade está nele. “O solo e a vida evoluíram em conjunto, não existe vida sem solo e solo sem vida, e ele é o único lugar que tem o poder divino de ressurgir a vida, por isso, a saúde do solo é a parte mais importante nas ações pelo futuro do mundo”, revela Rattan.

Da saúde do solo deriva a saúde das plantas, e na sequência a saúde animal, a humana, a ambiental e a do planeta. E assim Rattan chega em seu principal mote, afirmando que “bom alimento é remédio, boa comida vem de um solo saudável, e o conteúdo do solo é como um coração para que ele seja saudável”.

Em seguida, ele explicou os pontos essenciais para tornar o ciclo do solo saudável e indica que entender a dinâmica do carbono em um período longo de tempo é fundamental para analisar quanto dele pode ser sequestrado no solo. Para Lal, diversas tecnologias podem aumentar isso, como a agricultura de preservação, agrofloresta, controle de desmatamento, reflorestamento e sistemas agrícolas. E para que haja avanço no sequestro de carbono deve-se desenvolver uma agricultura moderna, que significa variada. Ele mostrou, então, como deve ser o sistema agrícola, todos os elementos que devem compor e como deve ser o ambiente a sua volta, com diferentes tipos de plantas e de animais, e ainda como devem ser manejados os nutrientes e a água. “A agricultura moderna é produzir mais com menos, melhorando a eficiência e a qualidade”.

As principais práticas para uma agricultura inovadora são proteger, manejar e restaurar o solo; recarbonizar solo e vegetação; melhorar a qualidade da água e sua capacidade de renovação; adotar emissão negativa na agricultura; reduzir o uso de fertilizantes químicos; e promover a economia circular. Com essa agricultura inovadora ocorre o aumento do sequestro de carbono e os produtores rurais também ganham, por meio do crédito de carbono.

Os pontos importantes enfatizados pelo Nobel para que tudo ocorra são o reflorestamento no mundo, especialmente na Amazônia; diminuir o uso de fertilizantes gradativamente, até ¼ do que se usa hoje, em 2100, melhorando a eficiência; melhorar a irrigação; aumentar a agricultura de preservação; diminuir o uso de água com a irrigação por gotejamento, que gasta 1/3 do utilizado hoje. Tudo isso se resume em “planejar o que precisamos, devolver a terra e a água para a natureza, e ao mesmo tempo aproveitar a produtividade, produzir mais com menos, baseado em ciência”, declara.

Enfatizando a questão do Brasil, Lal afirma que a área usada para pasto e agricultura no país pode ser usada para o sequestro de carbono, e além disso, um lugar ótimo para o armazenamento são os mangues, com potencial muito maior do que as florestas, sequestrando 20 vezes mais rápido. Citou como exemplo a alta taxa de sequestro de carbono nos estados de Rondônia e Mato Grosso. “A agricultura do Brasil pode ser um modelo mundial para o sequestro de carbono, um sistema que pode ser reproduzido, por exemplo, na África, como o sistema do milagre do cerrado”. Ele citou pesquisadores brasileiros que trabalharam em pesquisas com ele, sendo um deles o engenheiro agrônomo Luiz Antonio Corrêa Lucchesi, conselheiro federal do Confea.

Encerrando, Rattan Lal declarou que seu principal lema é “solo saudável, pessoas saudáveis, mundo saudável, ambiente saudável”. O Nobel foi aplaudido em pé pela plateia, como demonstração de carinho dos brasileiros e de reconhecimento. Em seguida, o espaço foi aberto para perguntas, que enfatizaram o papel da educação nesse processo de desafio multidisciplinar que ele mostrou. Questões de terras degradadas e dos pequenos produtores e a crítica à produção animal também foram abordados.

 

Veja a palestra na íntegra:

 

 

Reportagem: Débora Irene Pereira (Crea-PR) 
Edição: Beatriz Leal (Confea) 
Equipe de Comunicação da 78ª Soea 

 

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