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Coordenadores de cursos de Agronomia e CREA-RS debatem curricularização da extensão


Encontro foi o sétimo promovido pelo CREA-RS . Créditos: Arquivo CREA-RS

A sétima edição do Encontro Regional de Coordenadores de Curso de Agronomia foi realizada nesta quarta-feira (18) em Porto Alegre. O foco dos debates foi a curricularização da extensão e os desafios perante as atribuições profissionais dos cursos de Agronomia com a resolução do Conselho Nacional de Educação que prevê a adequação dos Projetos Pedagógicos de Curso (PPC), visando garantir um percentual mínimo na carga horária dos cursos para as atividades de extensão.

A abertura do evento foi realizada pelos Engenheiros Agrônomos Jerson Spohr, 2º vice-presidente, e Matheus Piato, coordenador da Câmara Especializada de Agronomia (Ceagro).

Piatto ressaltou a preocupação do CREA-RS com as mudanças de currículo no momento da validação das atribuições dos profissionais oriundos das diferente universidade e faculdades do RS. “Por isso buscamos esse estreitamento na relação da academia com o Conselho e frisamos a importância dos professores, pois são eles e as instituições de ensino quem de fato concedem as atribuições, nós apenas homologamos”, afirmou.

Spohr reiterou em sua fala a importância que o CREA-RS concede à relação com as instituições de ensino, representadas no encontro pelos professores. “A formação é o princípio de tudo, é importantíssimo formamos os profissionais que a sociedade precisa, que estejam preparadas para as demandas atuais. Assim, é nossa obrigação proporcionar eventos como o de hoje.”

A manhã foi dedicada às apresentações dos aspectos legais, pelo CREA-RS, com o coordenador da Ceagro, Eng. Agr. Piatto, e o analista da Câmara, Eng. Agr. Márcio Schneider; do exemplo da implantação da curricularização pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) com a prof. Janaína Brandão; e das possibilidades inovadoras e dos impactos sociais que podem ser obtidos com a implantação da extensão e os itinerários formativos, com prof. Simone Imperatori, da União Latino-Americana de Extensão Universitário.

Aspectos legais e as atribuições profissionais dos engenheiros agrônomos

Apresentando as resoluções e o decreto nº 23.569, de 11 de dezembro de 1933, chamado “decretão”, que regula a profissão dos engenheiros agrônomos, o Eng. Schneider destacou que a evolução é intrínseca às profissões do Sistema Confea/Crea, mas que ela não deve levar à perda da identidade dos engenheiros. “Surgem novas ferramentas, mas nossas atribuições básicas estão no decreto que regulamentou a profissão e são o requesito para concedermos as atribuições plenas aos novos profissionais”, explicou.

De acordo com ele, atualmente não está sendo difícil dar atribuição plena a todos os egressos dos cursos de Agronomia. “Alguns currículos têm deficiências em áreas importantes da nossa formação e, quando chega no Conselho, o egresso pode ser surpreendido, pois não podemos registar determinada atribuição, se não houve formação nenhuma naquela área”, argumentou, explicando que muitos casos acabam judicializados. “E na Justiça não podemos saber o resultado, o que é péssimo para a sociedade”, afirmou concluindo que, uma forma de isto ser evitado, é as escolas cumprirem a diretriz básica curricular.

“Esperamos, ao menos, o alinhamento do conteúdo programático dentro das universidades federais, porque as universidades públicas não são alinhadas”, destacou o Eng. Piatto. Como representante do Conselho gaúcho  na Coordenadoria de Câmaras Especializadas de Agronomia, do Confea, o coordenador da Ceagro relatou que levou o questionamento ao Ministério da Educação e não obteve um retorno.

“Porque poderíamos, e é preciso, ter diferenciais regionais, mas o conteúdo mínimo tinha que ser o mesmo em todo o país. Temos, por exemplo, cursos de agronomia de quatro anos, o que é inviável. Então, esssa questão do alinhamento é urgente”, afirmou.  Considera que a cobrança deva vir dos próprios alunos. “antes de ingressar num curso, o jovem deve perguntar sobre quais atribuições ele vai ter com o currículo da universidade que pretende cursar. Não basta apenas comentar um conteúdo programático, há que ter as horas mínimas para o profissional ter determinada atribuição.”

Curricularização da extensão e os desafios para sua implementação na UFSM

“Um processo longo e difícil de ser implementado, mas que vai aproximar a academia da realidade social em que ela está inserida”. Assim, a prof Janaína Brandão, coordenadora do curso de Agronomia UFSM, resume a experiência do primeiro semestre da curricularização da extensão na federal de Santa Maria.

Janaína deu a perspectiva histórica do curricularização, citando a elaboração, nos anos 1990, do Plano Nacional de Extensão Universitária, que trouxe o conceito de ter na extensão um instrumento de mudança social. Chegando à 2012, com a questão da indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão dentro das universidades, até 2018, com Resolução nº 7, do Conselho Nacional de Educalçao Superior, que estabeleceu as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira , trazendo que  “as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% (dez por cento) do total da carga horária curricular estudantil.


A partir daí, explica, teve início a adequação dos Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) da Agronomia, com a decisãode, dentro da carga horária das atividades complementares de extensão, a reserva de 120 horas como disciplinas. “Então tivemos o compromisso de viabilizar essas novas disciplinas que são Extensão agronômica 1, com o foco nas pessoas e unidades de produção; e Extensão Agronômica 2, onde o foco são as instituições, onde buscamos conhecer as instituições que atuem e impactam no curso e na formação do Agrônomo.”

De acordo com ela, estas aulas são “fio condutor do aprendizado”, colocado em prática nas atividades de extensão. “Temos regramentos para garantir que o aluno participou das atividades, então aumenta um pouco a burocracia para garantir que ele teve aquelas horas”, destaca, explicando que 50% destas atividades devem ser dentro da universidade e a outra metade fora.

E as atividades de extensão tem de ser para público externo à UFSM e acontecer desde o começo do curso”, explica. De acordo com a Janaína, a experiência tem sido extremamente positiva. “Mudou o interesse dos alunos e aumentou a pró-atividade”, conclui. “É um processo ainda recente, mas acredito que, se for bem-feita, a curricularização vai auxiliar na formação, pois essa interação com os públicos externos permite que se diagnostiquem problemas do campo, que façam com que alunos e professores repensem as didáticas de como lidamos com os agricultores no campo e mesmo no meio urbano. É uma troca muito profícua. ”

Os currículos inovadores com impacto Social nos itinerários formativos pela Extensão

Fechando a manhã de apresentações, a diretora acadêmica das Faculdades EST Consultora Sênior de Educação Superior, integrante da União LatinoAmericana de Extensão Universitária, profa. Dr. Simone Imperatori trouxe sua larga experiência como consultora em diversas universidades, do Brasil e da América Latina, na implantação da curricularização da extensão.

“Qual o perfil do egresso que queremos formar e qual a justificativa social do nosso curso? É dessas respostas que sabemos de que extensão estamos falando”, afirmou de princípio. “A extensão agrega um currículo inovador baseado na tripartite universidade, alunos e sociedade. São programas e projetos, não são quaisquer extensões”, continua a professora.  

“Na União LatinoAmericana discutimos há mais de 20 anos uma extensão que seja coerente, uma extensão orgânica e articulada à pesquisa e um trabalho transformador com o compromisso com o compromisso com o desenvolvimento da região onde estamos inseridos. E não é uma novidade, esta é uma premissa de todos os Plano de Desenvolvimento Institucional”, instiga Simone.
De acordo com ela, é na extensão que se dá a articulação entre pesquisa e ensino. “As escolas dizem que fazem os três – pesquisa, ensino e extensão -, mas a grande maioria faz apenas uma: o ensino. Muito poucas fazem pesquisa e quase nenhuma faz extensão”, analisa, dizendo ser a esta última “nada mais é que um currículo em movimento e com práxis social”.

“Estamos falando de ação, de projeto, no caso do Agro não estamos inovando muita coisa, já que a Agronomia é o berço da extensão na América Latina”, destaca. Ela explica, ainda, que é na extensão que se rompe a dissociabilidade entre o ensino. “Normalmente as linhas de pesquisa não dialogam com as extensões, então temos que repensar nossas práticas e a currícularização vem em apoio a isso. “A extensão tem que dialogar com as demandas da comuninidade e tem que ser construída em conhecimento também com esta comunidade. É a extensão que orienta a pesquisa e que cumpre com o compromisso de uma ciência com pertinência social.”

A professora finaliza dizendo que, através da escuta dos egressos das experiências de curricularização mostra um profissional que pensa a inovação atrelado ao impacto social. “Potencializa a reflexão crítica dos alunos e, assim, formamos um profissional mais apto e com experiência prévia dos problemas que vai enfrentar no mundo. A extensão é possível e factível.  vai dar frutos em lugares onde meus braços não alcançam”, conclui.

À tarde, o grupo abriu para o debate dos assuntos da pauta e finalização da Carta do evento.

 

 

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