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Mulheres que Fazem a Diferença nos gramados esportivos


Créditos: Arquivo CREA-RS

Responsável pelos gramados das principais arenas esportivas do País, a Eng. Agr. Maristela Kuhn foi a terceira convidada da série “Mulheres que Fazem a Diferença”.  Ao abrir o encontro virtual, a presidente Eng. Nanci destacou a profissional, assim como as demais convidadas da programação. “Mulheres que são grandes profissionais, mães, esposas, que são multitarefas. E, como mãe de uma futura engenheira, é muito bom poder fazer essa troca de informações.” A Eng. Agr. Denize Frandoloso agradeceu aos organizadores pelo evento e a qualidade das convidadas. “Muito bom ouvir mulheres que quebraram paradigmas, que fazem a diferença e que deveriam ser todas homenageadas e valorizadas o ano todo”, ressaltou, dando as boas-vindas à palestrante.

A Eng. Agr. Maristela Kuhn, que tem pós em gramados esportivos pela Universidade da Flórida/EUA e é considerada a maior autoridade no assunto do Brasil, em uma hora deu uma pequena aula sobre a área de manejo de gramados esportivos, desde a construção, aos métodos de plantio e a conservação e novas tecnologias disponíveis ao setor. Também falou mais amplamente sobre mercado de trabalho neste e em outros campos da Engenharia Agronômica, destacando o bom momento do paisagismo.

Aos estudantes e profissionais em começo de carreira, incentivou a qualificação constante e a maior inserção das mulheres nos diversos campos da Agronomia, que considera já mais avançado que nos seus primeiros anos, mas ainda uma profissão com predominância masculina, e aconselhou. “A agrônoma que vai para o campo tem também que acabar com a fantasia que vai trabalhar de saia, maquinada e unha pintada, e isso não é machismo, é inerente à profissão, nosso EPIs são chapéu, botas e protetor solar."

Na área Agronomia para o esporte, destacou os dois grandes momentos do campo de trabalho  no Brasil, na década de 1990, com a abertura do País para as exportações, na chegada de sistemas de irrigação automatizados e de máquinas de corte específicas. E, depois, com a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. “Houve uma incrível aceleração com a construção e grandes reformas de estádios e também dos centros de treinamento”, apontou.

Tipos de solo e grama e tecnologias de manutenção de gramados

Após, explicou sobre os solos dos gramados de esportes, tanto de futebol, como golfe ou hóquei. Falou dos diferentes tipos de solo naturais no Brasil e sua comparação com o gramado plantado sob um colchão drenante. “Claro que com o solo natural temos menos custo com substrato, mas, por ser mais argiloso, aumenta o risco de cancelamentos ou atrasos em partidas e também a propensão de lesões nos jogadores”, explicou. “A boa drenagem dos campos é essencial para a redução desses episódios, onde explicou os principais métodos”, completou, como o colchão drenante.

Ressaltou, ainda, a importância da escolha de bons materiais. “O material mais barato é o correto para cada projeto, e isso quem vai dizer é o Engenheiro que conhece e é capacitado para a melhor escolha. Temos que valorizar nossa profissão, porque somos quem tem condições de fazer um projeto sério e oferecer a melhor qualidade e o melhor material”, defendeu. Ressaltou, também, a importância da compra de grama de produtores certificados. “É preciso escolher a qualidade de grama adaptada para cada região e definir o período correto para sua plantação", complementou.

Citou, ainda, as escolhas para cada tipo de uso: amador ou profissional. A Engenheira esclareceu que no campo profissional a grama foi adaptada geneticamente para crescer rápido. “Então ela tem demandas e exigências que um campo de um parque público ou de um condomínio, por exemplo, não vai conseguir suprir”, diferenciou.

Apresentou os tipos de plantio por mudas e por sementes, que requerem prazo maior de instalação, e o plantio em rolos, método mais rápido, porém também mais caro.  “Faço a fiscalização em lavoura, para conhecer a qualidade do rolo antes de o cliente fazer a compra. Para a final das Olimpíadas no Brasil, no Maracanã, compramos um gramado e implantamos e em 12 dias ele estava pronto. Foi um grande desafio e a primeira vez que isso foi feito no Brasil”, revelou.

Sobre novas tecnologias, falou da drenagem a vácuo, que mantém o solo do gramado seco mesmo sob chuva forte, e a ventilação, que faz um trabalho oposto. Outro item abordado, foram as luzes complementares, necessárias às novas arena  que por serem mais fechadas, geram grandes áreas de sombreamento. Também utilizadas em regiões mais ao sul, onde há épocas do ano com menor incidência solar. “Esses equipamentos têm um custo alto, porém não há como manter gramado esportivo se não tem luz.” Por fim, falou das fibras de estabilização do solo, que permitem maior enraizamento e firmeza do gramado. “As fibras também são recomendadas para gramados que tem sobreamento grande”, explicou.

Em termos de manejo de gramados instalados, citou a descompactação, que consiste em furar o piso com um equipamento especial, que retira ‘tubetes’ de solo e nivela o gramado. “A compactação é um processo cumulativo, esse serviço renova o gramado, traz um enraizamento melhor e contribuiu com uma menor risco de lesões aos jogadores”, explicou. Realizado após os campeonatos, fecha os buracos abertos nos jogos durante a temporada. Também citou a remoção do colchão de grama, que garante maior rolagem de bola.

Mercado da grama
A profissional, que atua há muitos anos no mercado esportivo, falou do mercado de grama no país, citando o dado de que, dentro dos produtores que cultivam para o setor, destinam apenas cinco por centro de sua área lavrada é destinada ao mercado do esporte, sendo os 95% restantes plantados para o setor do paisagismo.

Isso se dá, de acordo com ela, a pouca demanda do país, diferente de países que possuem outros esportes que exigem gramado profissional, citando Estados Unidos que tem forte tradição do golfe, esporte que tem um campo 40 vezes maior que do futebol. Além disso, explicou que um campo de futebol bem gerido tem alta durabilidade, que vai de vinte a trinta anos.

Também considera o aquecimento do mercado do paisagismo durante a pandemia, com as pessoas dando maior atenção às áreas abertas de suas casas e dos condomínios. “O mercado de esporte, em contrapartida, está muito prejudicado neste momento. Profissionais que se capacitaram e aprenderam a trabalhar com grama para o mercado esportivo já saíram do Brasil, porque a demanda caiu muito.”

Copa do Mundo
Encerrando sua apresentação, Eng. Maristela falou um pouco sobre seu trabalho durante a Copa do Mundo no Brasil, em 2014. “Naquele momento existia um grande mercado, foram 14 grandes estádios reformados ou construídos do zero, além de dezenas de campos de treinamento”, lembrou. E destacou o investimento que houve, por parte da Fifa, em educação e treinamento de equipes para atuar na execução e manutenção dos gramados. “Fizemos quatro seminários de preparação em todos os níveis, desde o peão até o agrônomo, por todo o País. No primeiro tínhamos 30 pessoas, no último 300. Acredito que o maior legado da Copa na minha área foi isso, a educação“, finalizou.

Programas

A série "Mulheres que Fazem a Diferença" apresentará a Engenharia, a Agronomia e as Geociências, através de temas como Mulheres no Sistema Confea/Crea; Projetos Socioambientais e ODS; Engenharia a Serviço da Saúde; Manejo de Gramados Esportivos; Siderurgia Nacional para Geração de Energia Eólica; Avaliação e Tributação Imobiliária; Pioneirismo da Geologia no Brasil; Armamento Químico e Engenharia Segura.

Ao total serão oito profissionais falando de suas experiências profissionas. Confira a programação completa.

 

 

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